domingo, 31 de julho de 2011

SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO SÍTIO "SOLEDADE". (Conclusão).


 
 As  características  personalísticas  comuns  às  famílias  BRUACA, TARGINO  e  TENÓRIO  são  definidas  pelas  atitudes  firmes, dignidade  e  honra  pessoal.  Dignas  famílias  compostas por  homens  e mulheres que  acreditam  na  força  da  palavra  empenhada,e no  entendimento  de  que  o  que  foi  firmado  em  compromisso  deve  ser  mantido  em  qualquer  circunstância.  Tem a  lealdade   e
a  confiança  mútuas  como  base  para  consolidação  de  amizade  estável  e  duradoura. São valorosas  famílias, fiéis  aos seus temperamentos  de  convicções  antigas  e  irredutíveis  de  obstinação  e  determinação. Elegantes  na  simplicidade  da  vida  cotidiana. Constituem  o mais  seguro  roteiro  histórico  do  costume  sertanejo  do  entrelaçamento  familiar  restrito  à  pessoas  destas  três  famílias, evidenciando a  identidade  com  a  alma  do  passado, como  condição  indispensável  para  se  pensar   na  vida  do  futuro.  Devotam  profundo  respeito  aos  seus  princípios  tradicionais,que  entre  elas  representam  uma  norma  de  conduta. Só em ter  seus  nomes  citados, imprimem  acatamento, respeito  e  confiança.  Meu  avô  e  meu  pai  tiveram  a  honra  de  contar  com  a  elevada  estima  e  amizade  destas  honradas  famílias. Na  retina  do  meu  passado  de  menino  de  dez  anos, lembro-me   que  fui  hóspede, junto com  o  meu  saudoso  pai, do  amável  casal  sêo  ODILON  TARGINO  e  dona  PRETA.  Final  de tarde, sentava-me  em  tamborete  com  assento  de  couro  de  boi, defronte  a  casa, ouvindo  os velhos Bruacas  e  Targinos  a  relembrarem  suas  andanças  pela  vastidão  da  Chapada  do  Apodi. Durante  as  conversas, serviam-nos  um  cheiroso  café  torrado  e  moído  em  casa, por  dona  Preta. Em ano  de seca, podia-se  ouvir  o  zumbido  das  "cigarras"  rasgando  a  teia  do  silêncio  da  caatinga. Saudosas  tardes  de  ar  provinciano, onde  eu  fitava  o  horizonte  até  o  derradeiro  raio  de  sol  a  abrir  o  caminho  da  noite.
                       Sobre  a  família  TENÓRIO, colhí  importantes  subsídios  históricos  ouvindo  pessoas  de  idade  longeva, como  os  
Srs.   Natim  Targino, João  Martins  e  Tibúrcio  Bruaca  - que  é  o  mesmo  Tibúrcio  Goela, que faleceu  beirando  os  100  anos  de  idade.  Todos  nascidos  e  criados  no  sítio "Soledade".  Restou  comprovado  que  a  família  TENÓRIO  fixou-se  inicialmente  no  sítio  "Baixa  Verde", na Chapada  do  Apodi, por  volta  do  ano  de  1940, tendo  como  tronco  inicial  o  Sr. PEDRO  TENÓRIO e  esposa  Maria.  Este  venerando  casal  chegou  em  Apodi  vindo  do  sítio  "Passagem  de  Pedras", em  Mossoró, onde  ficaram o  pai  e  os  irmãos  de  Pedro, cujo  pai  era  conhecido como sendo  o  velho  CHICO  TENÓRIO.  Do casal  PEDRO  e  MARIA  nasceram  os seguintes  filhos:  F.01-  CHICO  TENÓRIO, que  casou  com  dona  FRANCISCA, filha  do  velho  João  Targino,tendo fixado  residência  no  sítio  "Soledade"  onde  vivia  da  fabricação  da  cal; F.02- RAIMUNDO  TENÓRIO, casado  com Doca; F.03- ALDENOR  TENÓRIO; F.04- ANTONIO  TENÓRIO, casado  com  uma filha de Belino da  "Baixa  Verde"; F.05- TIQUINHO  TENÓRIO;
F.06-  RAIMUNDA  TENÓRIO, casada  com  Antonio  Pequeno; F.07- MARIA  TENORIO; F.08- TIQUINHA  TENÓRIO, casada  com  José  Eleutério, filho  de  Eleutério, vaqueiro  de  Manoel  Negreiros.
                      No  arcabouço histórico  do  sítio  "Soledade"  não  há  como  não  se fazer  alusão  ao  ícone  representado  pelo  "LAJEDO  DE  SOLEDADE", mundialmente  conhecido, por  suas  gravuras  rupestres. Quatro  figuras  exponenciais ligam-se  intrínsecamente  à   história  e  a  preservação  do  acervo arqueológico  do  "LAJEDO":  O  inolvidável Padre  FRANCISCO  CORRÊIA  TELLES  DE  MENEZES; O  incansável  historiador  VINGT-UN  ROSADO; O  insígne  e  profícuo  Padre  PEDRO  NEEFS, e  a  historiadora  e  poetisa  MARIA  AUXILIADORA  DA  SILVA  MAIA (Dodora  de  Tião  Lúcio). Não é de  hoje  que  estas  pinturas  chamam  a  atenção  dos  visitantes  que  passaram  próximo  ao  Lajedo, ou que delas  tenham  ouvido  relatos. Ainda  no
Século  XVII  as  pinturas  foram  citadas  pelo  pelo  Padre  Jesuíta  FRANCISCO  CORRÊIA  TELLES  DE  MENEZES, que percorreu  os  sertões  nordestinos entre o  ano  de  1797  a  1817, catalogando  e  elaborando  minucioso  relatório  das  pinturas  rupestres  existentes  em  grutas e  lajedos, compilados  no  Tomo IV  intitulado "DA  LAMENTAÇÃO  BRASÍLICA". Este  texto traz  consigo  a primeira  informação  sobre  o  "LAJEDO  DE  SOLEDADE":
                     "LAJES  DA  SOLEDADE  -  Este  sítio é  da  entrada  da  "Picada  do  Apodi"  para  diante  uma  légua.  É  dono de  
uma  parte  dele  JOSÉ  LOPES, morador  nas  vargens do  Apodi, o qual  diz  que, quando  cavou  o  olho  d'água, que é  entre  pedras, descobriu-o  subterrâneamente  muitos  cacos de telha  e  de  louça, como   que  com  eles se  fez  o  entupimento, e  logo  pulsou  água  em  abundância.  Este  poço  está  em  uma  ilharga  dum  pequeno  terreno  de  terra  firme, entre  grande  lajeiro  de  
pedra  de  cal, por  cujas  ribanceiras  e  locas  estão  muitos  sinais  de  tinta  encarnada; mas  como  é  aposento  de  passageiros,
estes  os  tem raspado  com  facas  e  ralado  com  pedras, e  que  por  isto  já  mal  se  divulgam". (FONTE:  Google/Arquivo  PDF - "MUSEALIZAÇÃO  E  ARQUEOLOGIA: DIAGNÓSTICO DO  PATRIMÔNIO  ARQUEOLÓGICO  EM  MUSEUS  POTIGUARES".  Abraão  Sanderson  Nunes  F.  da  Silva -  USP/MUSEU  DE  ARQUEOLOGIA  E  ETNOLOGIA. PROGRAMA DE  PÓS-GRADUAÇÃO  EM  ARQUELOGIA").
                      Quando  o  dinâmico  e  profícuo  Padre  PEDRO  NEEFS  chegou  ao  Apodi (1965-1969)  para  dirigir  a  sua  paróquia, foi  informado  pelas  três  famílias acima citadas, de que existia  um  lajedo  onde  eram  encontradas  várias  pinturas, o que despertou a  curiosidade  em  conhecê-las, bem como  desenvolver  trabalhos  de  conscientização  da  comunidade  quanto  à  necessidade  histórica  da  sua preservação. Conseguiu  juntar  considerável  acervo arqueológico, tais  como  peixes  fossilizados e  outras  faianças, cujo  material  possibilitou  a  criação de um  museu  natural  na  sede  da  FUNDEVAP. Vale  ressaltar  que,  após a  mudança  do  Pe. Pedro  Neefs  para  outra  paróquia  distante, o  lajedo  ficou  totalmente  entregue  ao  abandono, não tendo  sucumbido  à  sanha  destruidora  dos donos de  caieiras, graças  à  abnegada  e  desprendida  historiadora  DODORA  DE  TIÃO  LÚCIO, que  em  magnânima  e  louvável  atitude  chegou  ao  ponto  de  vender  um veículo  de  sua  propriedade  para  arcar  com  a impressão  de  cartões  postais  enfocando  as  pinturas  rupestres, para  divulgar  no  país  inteiro. Graças  à  esse  incansável  e contínuo  empenho  de  Dodora, a  PETROBRÁS  cerrou  fileiras  com  ela  para  catalogar, preservar  e  divulgar  o  patrimônio arqueológico  do  lajedo  para  o  mundo  inteiro. O  apego  e  o  amor  de  Dodora  ao LAJEDO DE  SOLEDADE  encontra-se  espraiado  nas  páginas  21  e  22  do  livro de  minha  autoria  intitulado "DATAS  E  NOTAS  PARA  A HISTÓRIA  DE  APODY", vol. I : .....O  que  me  restará  fazer  pela  história  do  meu  Apodi? Talvez  apenas  envelhecer  caminhando  sobre as  pedras  milenares do  Lajedo de  Soledade  e  olhando  o  por-do-sol  sobre  a  nossa  lagoa".  A  dinâmica  Dodora  ainda  reuniu  todos  os  apontamentos  históricos  sobre  o Lajedo, nos  dando  o  legado  de  um  livro  intitulado "LAJEDO  DE  SOLEDADE (história de) UM  POEMA  DE  PEDRAS".  Apodi  e seu  povo devem  este  grande  preito de  reconhecimento  e  gratidão  a  essa  brava  e  incansável defensora  do  Lajedo de  Soledade e  seu  expressivo  acervo  arqueológico.
                    Aos  pesquisadores  e  historiadores, sugiro  a  consulta  a monogafia  acima  citada  e  esta  monografia  contida  no  Google/ Arquivo  Pdf -  intitulada  "O  LAZER  E AS  ALTERNATIVAS  DE  GERAÇÃO DE RENDA:  O TURISMO  CULTURAL  NO  LAJEDO  DE  SOLEDADE, APODI/RN). Monografia de  Elizabeth  Cíntia  Medeiros de Oliveira, apresentada  como  requisito para  a  obtenção do grau  de  Bacharelado em Antropologia e  Sociologia  no Curso de Ciências  Sociais da  UFRN.
                    O Sr. JOSÉ  LOPES  referenciado  pelo  Padre  Francisco  Corrêia  Telles  de  Menezes  é  personagem  constante  dos  meus  alfarrábios. No  assento de óbito  encontrado em  um  dos livros  do 1º  Cartório  Judiciário de  Apodi, do ano de 1933, à  fls. 170/v, consta  que  o  mesmo  tinha  o nome  completo  JOSÉ  LOPES DE  LIMA, filho  legítimo de  José Lopes de  Oliveira   e  de  Luzia de Lima, e faleceu  no  sítio  "Trapiá" (várzea do Apodi)  a  20.05.1933, aos  83 anos de idade, deixando  a  viúva  ANTONIA  VIRGÍNIA DE OLIVEIRA  e  os  filhos  JOÃO LOPES DE LIMA, casado  com  Petronila Alves de Oliveira; JOSÉ LOPES  FILHO; solteiro com 28 anos; SEBASTIANA  ALVES DE  OLIVEIRA, casada  com  João Ferreira  Gama; MARTINHA  ALVES  DE LIMA, casada  com  Antonio Lúcio  da  Silva  (Pais de João de Toinho,que  mora  vizinho ao cemitério); e ESMERALDINA  ALVES DE LIMA, casada  com Henrique  Eufrásio  de  Lima (Pais de Zacarias  Eufrásio  de Lima).
Por. Marcos Pinto.

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