segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

FAMÍLIAS APODIENSES COM ASCENDÊNCIA (ORIGEM) INDÍGENA.

  As  publicações  que  abordam  a  temática  do  entrelaçamento  étnico-cultural  do  elemento  branco  com  indígenas, nos  remonta  a  uma  assertiva  propalada  por  pessoas  de  idades  longevas, que  de  forma  peremptória  e  incisiva  sentenciam: "A  minha  avó  foi  pega  à  casco  de cavalo  nas  brenhas  das  matas", ou  então -  "A  minha  avó  foi  pega  nas  matas  à  dente  de  cachorros". Na maioria dos casos, restam  configurados  como  simples  lendas  familiares.  Instigados  à  revelarem  os nomes  de  suas  avós  e época em  que foram  preadas, apelam  para  a  arguição  de  falta  de  memória,esquecimento, como  se  temessem  que  o  interlocutor  passe  para  as  páginas  de  um  livro.  Denotam  uma  estranha  e  voluntariosa  omissão, como  se  o  fato causasse  vergonha  à  história  familiar.  No livro  que  trata  sobre  a  história da  família  DIÓGENES, consta  que  o  patriarca  DOMINGOS   PAES  BOTÃO  NETO vivera  maritalmente   com  uma  índia  tapuia  do  vale  jaguaribano, de  nome  NARCISA  DIAS.  Em  Apodi,  ouví  da  Professora  Célia  Melo,natural  do  sítio  "Sororoca", a  afirmativa  de  que  a  bisavó  dela  era  uma  índia  e que  fora  "pega  à  casco  de  cavalo".  Sugerí  à  mesma,  que  envidasse  pela  pesquisa  meticulosa,profunda, intensa, para  ver  se  chegava  ao "fio da  meada", com  a possível  elucidação  do  nome  dessa  sua  ancestral  indígena.


MORTE DO PADRE FILIPE BOUREL
   No  contexto  da  área  territorial  do  Apodi, o  processo  de  civilização  do gentio  indígena  tapuias  paiacus, da  nação  Tarairiús, só  foi  possível  com  a  instalação  da  Missão  Jesuíta  na  margem  direita  da  lagoa, em  10  de  Janeiro  de  1700 pelos  intrépidos  e  abnegados  e  virtuosos  padres  PHILIPE  BOUREL  e  JOÃO  GUINCEL, no  local  que  ficou  conhecido  como  "Córrego  da  Missão", que  passou  para  os  documentos  oficiais  como  sendo  a  MISSÃO  JESUÍTA  DA  ALDEIA  DO  LAGO  PODI (Vide livro "HISTÓRIA DA COMPANHIA  DE  JESUS  NO  BRASIL". Tomo  V - Autor: Pe. SERAFIM  LEITE). Tem-se  notícia  que  alguns  índios  da  Aldeia  do  Apodi  foram  batizados  com  nomes  de  padres  jesuítas  que  catequisaram  neste  rincão, citando-se  como  exemplo  o  índio  Bonifácio  Teixeira.  O  capítulo  da  história  indígena  em  Apodi  precisa  ser  estudado  amiúde,sem canseiras,com  abnegação  nem  data  pré-fixada  para conclusão.  Ademais, temos  muitos  conterrâneos  com  curso  superior  em História, que  poderiam  envidar  por essa  temática, passando  a "garimpar"  em  vetustos  documentos  que  tratam  deste  tema, existentes  no arquivo  do  Instituto  Histórico  e  Geográfico  do  Rio  Grande  do  Norte - IHGRN.
   Ainda  não  nos  foi  possível  precisar  a  data  do  primeiro  contato  da  família  NOGUEIRA, fundadora  e  colonizadora  do  Apodi  no  ano  de  1680,  com  o gentio  indígena.  Com  certeza  não  foi  um  contato  amistoso, até  porque  não  houve  a  intermediação  de  padres  no  processo  de  alinhamento  étnico-cultural. A  prova  inconteste  do  atrito  permanente  dos  NOGUEIRAS  com  os  tapuias  paiacus  reside  no  trágico  embate  ocorrido  nas  margens  da  lagoa  do  "Apanha-Peixes, no  dia  09  de Agosto  de  1688  em  que  tombaram  mortos  os  primos  João  Nogueira(O  Moço)  e  Balthazar  Nogueira, tendo  os  NOGUEIRAS  batido em retirada, vergonhosamente, deixando  os  irmãos  mortos  e  abandonados  no  campo  de  batalha.  Como  os  tapuias  paiacus  eram  canibais, é  possível  que  tenham  se  alimentado  dos  corpos  destes  bravos  mártires, já  que  a  prática  era  tida  como  um  ritual  de  sucesso  da  luta  travada. João  Nogueira (O  Moço) era  filho  de  Manoel  Nogueira, e Baltazar  era  filho de  João  Nogueira ( O Velho, irmão de  Manoel  Nogueira).


NONATO MOTA
 O  incansável  e  abnegado    historiador  Apodiense  NONATO  MOTA (Raimundo Nonato Ferreira da Mota - 30.06.1866/04.06.1936)  nos  deixou  um  vasto  legado  histórico, fruto  de  acurada  pesquisa  nos  documentos  cartoriais  de  Apodi  e  Portalegre, cujas  anotações  foram  publicadas  no  Boletim  Bibliográfico  nº 63, da Coleção  Mossoroense, sob  o  título "NOTAS  SOBRE  A  RIBEIRA  DO  APODI" - Coleção Mossoroense, Série  "B", nº 606, ano  1989). O  que me  causa  um  certo  desapontamento  é  o  fato  de  que  as  famílias  Apodienses  com  origem  mameluca  não  descendem de  um  indígena  do  Apodi, e sim,  de  Alagoas.  Deu-se  pelo  casamento  do português  ANTONIO DA  MOTA  RIBEIRO,nascido  em  Portugal  a  13.06.1710  e  que  casou  em  Apodi  com  a  idade  de  29  anos, no  ano  de  1739  com  JOSEPHA  FERREIRA  DE  ARAÚJO, filha  do  português  Carlos  Vidal  Borromeu  e da  índia  ISABEL  DE  ARAÚJO, natural  de  Alagoas.  Josepha  faleceu  em sua  fazenda  "Santa  Cruz"(Apodi)  a  17.10.1792 (Vide  inventário  no arquivo morto  do  Fórum  Des. Newton  Pinto). Carlos  Borromeu  casou  em  segunda  núpcias, por  viuvez, com  Margarida  de  Freitas, filha  do  fundador  Manoel  Nogueira  Ferreira. Abatido  pela  morte  de  sua esposa, Antonio da  Mota  Ribeiro  faleceu  a  19  de  Agosto  de  1796, deixando  os  seguintes  filhos, netos  da  índia  Isabel de Araújo:

F.01-JOSÉ DA MOTA FERREIRA.
F.02-TEREZA  MARIA DE JESUS -  Casou  com  o  português Manoel  Antonio  da  Costa, que  por ser  alvo  e  de  olhos azuis  diziam  que  ele  se  parecia  com  um  inglês, nascendo  daí  o  apelido  de  Manoel  Inglês.

Este  casal  é tronco  da  família  dos  "INGLÊS"  do  sítio  "Ponta  D'água";
F.03- LOURENÇA  FERREIRA  DA  MOTA - Casou  com  o  português  SIMÃO  DO  RÊGO  LEITE,  e  foram  pais  de: 
N.01- MARIA  DA CONCEIÇÃO  LEITE - Casou  com  o português,(nascido  em Lisboa) LUÍS DA COSTA  MENDES - Este  casal  é  tronco  da  família  FERREIRA  LEITE, de quem descende  Mané  Leite,pai  de  Sêo  Vicen te  Leite (Pai  de Toinho  Leite); e os abastados Apodienses (irmãos) e comerciantes  na  praça  de  Mossoró  Coronel  JOÃO  FERREIRA  LEITE, casado  com  Cristina  Veras, e  SALUSTIANO  FERREIRA  LEITE.(Saluleite). F.04- DAMIANA  ANTONIA  DA  MOTA -  Casou  com  o  sesmeiro  CRISTÓVÃO  DE  SOUZA, filho  de  Estevão  de Pereira de Souza.F.05- MARIA TEREZA DA MOTA - Casou com FRANCISCO MARÇAL DE BRITO, fundador de Pau dos Ferros-RN. F.06- COSMA  MARIA -  Casou  com  ANTONIO  DA  ROSA  MACHADO.
F.07- INÊS  MOTA -  Casou  com  JOSÉ  LUÍS  VIEIRA  DE  VERAS.
F.08- FRANCISCO  FERREIRA  DA  MOTA.
F.09- Capitão  JOSÉ  FERREIRA DA  MOTA - Casou  com FLORÊNCIA  MARIA  DE  JESUS, e  foram   pais  de:
N.01- ANTONIA  SENHORINHA DE  JESUS -  Casou  com o  Capitão  MANOEL  FERNANDES  PIMENTA;
 N.02- Padre  JOSÉ  FERREIRA  DA  MOTA.

(FONTE: Vide  livro "VELHOS  INVENTÁRIOS  DO  OESTE  POTIGUAR" pág. 18  a  21 - Marcos  Antonio  Filgueira - COLEÇÃO  MOSSOROENSE - Série  C - Volume  740 ´Ano  1992).
  O  Capitão  JOSÉ  FERREIRA  DA  MOTA  e  seu  genro  Manoel  Fernandes  Pimenta  participaram  do  movimento  da  REVOLUÇÃO  PERNAMBUCANA  no  RN, em  1817, não  tendo  sido  presos  porque  reconheceram  o  regime  monarquista  português.  Como  se  depreende  do  texto, as  famílias  MOTA, SOUZA, BRITO, MACHADO, e o ramo que  descende  do  Capitão  Manoel  Fernandes  Pimenta,  tem  sangue  indígena.


Marcos pinto - HISTORIADOR APODIENSE.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

INTELECTUAL APODIENSE MARTINS DE VASCONCELOS SOB A ÓTICA DO FOLCLORISTA CÂMARA CASCUDO.

A  cidade  de  Apodi  tem  sido, em  todos  os tempos, um  celeiro  de  intelectuais,em sua maioria  exportados  para  outros  meridianos  da  geografia  brasileira.  Neste  elenco  destacam-se  FRANCISCO  IZÓDIO  DE  SOUZA, WALTER DE  MOURA  CANTÍDIO, PÚBLIO  LOPES  FILHO, MARIA  GOMES  DE  OLIVEIRA, NEWTON  PINTO,JOSÉ  MARTINS DE VASCONCELOS,JOSÉ  LEITE, dentre outros  nomes  de  similares  importâncias  no  contexto  da  intelectualidade  potiguar.  O  historiador  e  maior  expoente  mundial  do  folclore  CÂMARA  CASCUDO, em  sua  "ACTA  DIURNA"  de  12  de  Janeiro  de  1948, traçou  o  perfil  biográfico  do  ilustre  Apodiense, em  depoimento  valioso  para  os  anais  da  história  deste  rincão  oestano-potiguar.  Ei-lo: 


" JOSÉ  MARTINS  DE  VASCONCELOS, homem  do  Apodi. morador no  Mossoró, devia  ser  maior  de  setenta  anos  ao falecer.  Baixo,moreno, lento, a  face  serena  era  iluminada  por dois  olhos  vivos, perguntadores, inquietos, ardendo, como  lumes  de  aviso  e  de  alerta,  denunciando  vida  interior.
    Realizou a  figura  sugestiva  do  autodidata  sertanejo, preso  à  terra,  como  o  caramujo  à  sua  concha, gravitando  ao  redor  de  interesses  pobres, num  raio  melancólico  de  ação.  Mas  esse  movimento, direção  e  força  que  o  animavam  foram  sempre  as  mais  nobres, num  plano  superior  de  pensamento.
   Aprendeu  sozinho  a  ser  professor  e  advogado.  Chegou  a  dirigir  o  próprio  Grupo  Escolar de  Mossoró  e  ir   à  tribuna  forense  como  Promotor  Público.  Sabia  músicas,  compunha.  Musicou  uma  revista  teatral  do  Prof.  Eliseu  Viana, denominada de  "Mossoró  por  dentro".   Fundou, dirigiu, ajudou  a  viver  a  dez  jornais  mossoroenses.  Publicou  dois livros  de  verso  e  uma  de  prosa.  Neste "Histórias  do  Sertão"  reuniu  material  folclórico, costumes, mitos, tradições  da  Chapada  do  Apodi.

Quando  estudei  o  "Ciclo dos  Monstros",   retirei  de "Histórias  do  Sertão"  o  documentário  de  um  deles, o raro  e  horrendo  LABATUT,  para  a  "GEOGRAFIA  DOS  MITOS  BRASILEIROS".  Nunca  deixei  de  procurá-lo  quando  visitava  Mossoró  e  ouví-lo
conversar  na  redação  do  "Nordeste",  jornal  que  durou  tantos  anos. José  de  Vasconcelos, na  sua  tipografia, parecia  um   pesquisador  num  laboratório.  Imprimia  versos  populares, espalhando  pelo  sertão  os  folhetos  registradores  da  vida  provinciana, da  gesta  heróica  dos  cangaceiros,  dos  desafios  tempestuosos,  guardando  a  vida  nossa  literatura  tradicional   e  popularesca.  Vez  por recebia  eu  uma  boa  remessa  desses  folhetos. Assim  viveu  sempre  entre  livros, aspirando  cheiro  de  tinta  de  imprensa, sonhando  jornais, sociedades  literárias,  reuniões  de  todas  as  alegrais, tão  raras,  do  convívio  intelectual.  Sobre  o  túmulo  humilde  do jornalista  sertanejo  sem  títulos  universitários,  podíamos  escrever  o mesmo  epitáfio  de  OLIVEIRA  LIMA,  no sentido  de  MOUNT  OLIVET :  -  AQUI  JAZ  UM  AMIGO  DOS  LIVROS.".
                               Nasceu  na  antiga  RUA  DA  AURORA,  atual  Rua  Antonio  Lopes  Filho, em  Apodi,  a  11  de  Novembro de  1874, filho legítimo  de  Gaudêncio  de  Góis  Vasconcelos (Da  família  NOGUEIRA, do  sítio  "Olho  D'água da  Garrafa" - várzea  do  Apodi)  e  de  Antonia  Maria  da  Conceição.

Ainda muito moço foi para Mossoró a fim fé procurar trabalho e estudar. Ali iniciou sua vida, desenvolvendo atividades modestas: foi vendedor de jornais, alfaiate, músico, para depois ingressar no jornalismo, dedicando-se ao mesmo tempo a serviços tipográficos, instalando uma tipografia, “O NORDESTE”,. Participou ativamente de todos os movimentos literários e políticos de sua época, fundou jornais, fez teatro, criou bandas de músicas, escreveu e publicou os seguintes livros: “Saltérios de Saudade” (poesias), “Renovos D’Alma” (POESIA), Histórias do Sertão (contos), “Goivos” (poesia). Em 1915, Martins criou o seu primeiro periódico, intitulado “A CRISE”. Todavia, após fundar “O NORDESTE” em 16 de novembro de 1916 é que começou realmente a mostra o valor de sua emocionada e justiceira pena, em defesa do que ele achava justas reivindicações. Este jornal de circulação bimestral circulou até o ano de 1934. Faleceu sua residência em Mossoró, na Rua 30 de Setembro, nº 46. no dia 22 de dezembro de 1947, aos 73 anos de idade, onde viveu e desenvolveu suas atividades de jornalistas, poeta, músico, comerciante e intelectual. Martins Vasconcelos foi sócio do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE e membro efetivo da ACADEMIA NORTE RIO GRANDENS e Patrono da Academia Apodiense de Letras, cadeira nº 30. É o autor do Hino de Apodi.
Casou-se em primeiras núpcias com Francisca Libânia Vasconcelos. Com o falecimento desta, a 25 de setembro de 1903, casou-se com Dona Silvia Freire de Vasconcelos, com os seguintes filhos: Maria Silvia, Francisco, Rubem, Djalma, Selma, Luzia, Eponina e José. José Martins foi um dos únicos autodidata completo, porque aprendeu a ler e tudo mais, sozinho.  É  imprescindível, pois, que  as  escolas  de  Apodi   façam  o  resgate  da  importância  deste  eminente  vulto  Apodiense, considerado  como  o  segundo  maior  folclorista  do  Rio  Grande  do  Norte,  com  intensa  produção  e  densidade  neste  ramo  dos  costumes  e  das  lendas  sertanejas.

Marcos Pinto - HISTORIADOR APODIENSE

COMEÇOU A POLÍTICA EM APODI

Parece quê começou pra valer a campanha política em Apodi, em cada esquina o quê se ouve são assuntos relacionados a política.
Boatos como: Fulano vai apoiar sicrano, sicrano vai indicar o vice de beltrano.
Acho até que futebol, carnaval etc...
vão ser assuntos secundário esse ano.
E no final de tudo o povo é quem sai na pior!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

CANGAÇO EM APODI - UM RELATÓRIO OFICIAL (INÉDITO) DE SUMA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA. (II).

Tenente JACINTO TAVARES FERREIRA.
Ao  receber  o  despacho  exarado  pelo  Diretor,  datado  de  20.09.1928, logo  no  dia  seguinte  o  Capitão  Jacinto  datilografou  o  seguinte  documento, que  hoje  faz  parte  do  acervo  do  Arquivo  Público  Estadual:                                                               
                          " DEPARTAMENTO  DA  SEGURANÇA  PÚBLICA.   
                                                                                                             
                                                               INFORMAÇÃO.  

                                Ao  Exmo. Sr. Dr. Diretor  Geral  da  Segurança  Pública. 

Cumprindo  o  despacho de  V. Excia, exarado  na  petição  de  Tilon  Gurgel, que  a  esta  acompanha, tenho  a  dizer  que  é  em  parte  inexacta  a  narrativa  do  facto  dela  constante, como  passo  a  expor.                                                                                   
                          Permita-me, porém, V. Excia, ligeira  digressão  sobre  antecedentes:  Ao  ser  nomeado  para  o cargo  de  Delegado  Especial  de  Polícia  em  Apody,  disse-me  o  Exmo. Dr. Governador  confiar-me  a  missão  mais  árdua  da  polícia, no  interior, pois  se  tratava  de  extirpar  o  cangaceirismo  que  alí  se  estava  implantando.   

  De  facto, chegando  ao  Apody, encontrei  a  população  alarmada  com as  ocorrências  delictuosas que  se  vinham  sucedendo, praticadas  por  um  grupo  de  maus  indivíduos  chefiados  por  Benedicto  Saldanha  e  Décio  Sebastião  de  Albuquerque, vulgo  Décio  Holanda, genro  e  amigo  de  Tilon, que  por  meio  do cangaço  esperava  ser  um  dos  chefes  políticos  do  Apody.  Verifiquei ser  a  residência  do  Tilon,  em  Pedra  de  ABelhas, um  dos  antros  onde se  reuniam  os  bandoleiros  para  combinar, com  o 
placet  deste,  as  desordens  que deviam  cometer. 

 Assim, após  múltiplas  peripécias,  em  que  Tilon, seu  genro  Décio  e  apaniguados   tudo  fizeram  para  amesquinhar
as  autoridades  e  o  governo, achava-me  naquela  cidade,  quando, na  noite  de  26 de  Dezembro  de  1925, compareceram  à  Delegacia  Especial  dois  indivíduos  armados  de  rifles e  apresentaram-me  Manuel  Delfino, preso  à  ordem  de  Tilon  Gurgel  que  mandara  trazê-lo   ao  Dr. Juiz  de  Direito  e  ante  a  ausência  deste  foram  entregá-lo  ao  Delegado.  Interrogados, declararam  em presença  de  diversas  pessoas  que  Manuel  Delfino  nenhum  crime  ou  desordem   cometera:  Que  Tilon  lhes  dera  os  rifles  municiados, que traziam, e  mandar  prender  a  Manuel  Delfino  e  que,  chegando  à  casa  deste,  encontraram-no  calmo, no  convívio  dos  seus, ficando surpreso  ao  receber a  ordem  de   prisão. 

Efecctivamente  nada  autorizava  esse  facto.  Não  era  possível  homologasse  a  polícia  actos  abusivos  de  quem  quer  que  fosse, menos  ainda  de  quem  notoriamente  se  conhecia  como  fomentador  de  ataques  de  cangaceiros  e  procurava  sobrepor-se  pelas  armas,  às  auctoridades  constituídas, das  quais  assim  menoscabava,  aparentando  interesse  na  repressão  a  um  delicto  imaginário. 

videnciado  o facto, a  improcedência  da  prisão, não  tive  dúvidas  como  auctoridade, em  desarmar  aqueles  indivíduos  portadores  de  armas  proibidas, e, assim, contraventores  do disposto  no  artigo  377  do  Cód. Pen. da  República.                       
                         Feita  a  apreensão  e  lavrado  o termo  respectivo, remetí-os  a  auctoridade  judiciária  local,  para  os  fins  de  direito. Algum tempo  depois, fiz entrega  à  Repartição  Central  da  Polícia, nesta  capital, das  mencionadas  armas, o que, de  certo, constará  do  livro  competente, salvo  equívoco,  no  mês  de  Junho  de  1926.  

É  o que  me  cumpre  informar  a  V.  Excia. Julgo, entretanto, conveniente, acrescentar  que  dias  depois, fazia-se  notório em  Apody,  que  a  indébita  prisão  de  Manuel  Delfino  se  fizera  porque  procurava  mudar-se da  propriedade  do seu  acusador, Tilon  Gurgel, por tentar  este  seduzir  pessoa  de  sua  família,  em  cuja  defesa  resolvera  tomar  essa  atitude, reveladora  de  dignidade e  de  prudência. 

 Como  vê  V.  Excia,  nenhum  fundamento  tem  a   pretensão  do  requerente, cujas  informações  não  correspondem  a  verdade  dos  factos. 

                                          Natal,  21  de  Setembro  de  1928. 

                                               Jacinto  Tavares  Ferreira.

                                                Capitão  -  Polícia  Militar.". 

   Marcos Pinto - HISTORIADOR APODIENSE.

CANGAÇO EM APODI - UM RELATÓRIO OFICIAL (INÉDITO) DE SUMA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA(I).

 É  inexpugnável  a  necessidade  que  os  pesquisadores/historiadores  devem ter,  de  elencarem  os  fatos  históricos  sempre  arrimados  na  verdade, isento  do  descabido  temor  de   ferir  suscetibilidades  de  pessoas e/ ou  famílias  que  protagonizaram  os  fatos, e  que  foram/são  objeto  de  conteúdo  de  documentos  oficiais  irrefutáveis.  A  rebuscada  leitura,  de  tudo  o  que  já  foi  escrito  sobre  a  história  do  cangaço  na região  Oeste  potiguar, nos  conduz  à  contundente  e  decepcionante  certeza de  que  há  muitas  lacunas  na  temática.  Cotejando-se  os  fatos  históricos  do  cangaceirismo  nestes  rincões,ainda  presentes  na  tradição oral,  com  os  documentos  oficiais ainda  existentes  nos  arquivos-mortos  cartoriais (Inquéritos/Processos-crimes), depreende-se  de  que os  historiadores, sem  exceção  nenhuma, optaram  por  omitirem  a  verdade  histórica, como  uma  forma  de  esconderem  o  libelo, o  dolo, a  culpa  de pessoas  que,  por  um  vínculo  amistoso  ou  formal  qualquer, suplantou  suas  hombridades  morais.  Foram  jagunços/  cangaceiros que  protagonizaram  atos  belicosos,sádicos, psicopatológicos.  Os  relatos  feitos  por  anciões  idôneos,  que  viveram  a  contemporaneidade  das  décadas  de  1920  e  1930, tiveram  suas  versões  desvirtuadas,  quando  passadas  para  as  páginas  dos  livros e  dos  jornais.  Dura  e  triste  constatação.  Um  desserviço  à  história   e  à  memória  dos  grandes  homens.

A  existência  de   grupos  armados  e  mantidos (Décadas  de  20 e  30) à  expensas  de  abastados  fazendeiros  do  lugar  denominado  de  "Pedra  das  Abelhas" ( Tilon Gurgel e seu genro  Décio Holanda) e  de  Caraúbas (Benedito  e  Quincas  Saldanha)  é  fato  incontestável,  público  e  notório.  No  ano  de  1925  houve  um  recrudescimento  do  cangaceirismo  em  Apodi, principalmente  na  zona  rural, tendo  como  foco  principal  um  processo  de  cabala  eleitoral  com  o  emprego  da  força  das  armas, da  coação, da  ameaça  velada, do  chibateamento, como  instrumento  de  insana  persuasão.  As  duas  hordas  assassinas  uniram-se  em  conluio  para,  sob  a  rubrica  do  cangaceirismo, proporcionarem  uma  vitória  eleitoral  ao  seu  assecla  Sebastião  Paulo  Ferreira  Pinto,ao  cargo  de  Presidente  da  Intendência  Municipal (Atual  cargo de  prefeito).  Para  a  concretização  do  intento  político, Sebastião   abriu  dissidência  político-familiar, para  se  aliar  a  corja  malfazeja  e  abominada  pela  grei  apodiense.  Durante  os  meses  de  Abril e  Maio  de  1925, as  atrocidades  e  ameaças  veladas  foram  se  tornando  amiúdes, tendo  como  principais  protagonistas  os  indivíduos  Décio  Sebastião  de Albuquerque, Benedito  Dantas  Saldanha, Manoel  Elias  de  Lima, Francisco  Gurgel  de  Freitas (Chico de  Freitas, do  Mulungú), Epifânio  José  de  Queiroz  e  Luiz  Felipe  de  Oliveira, contando  com  o  veemente  apoio  do  Dr. João  Dantas  Sales, então  Juiz  de  Direito  da  comarca  de  Apodi.  Diante  este  cenário, o  então  Delegado  Especial  de  Polícia  Capitão  Jacinto  Tavares, instaurou  vários  inquéritos  policiais, que  foram  objeto  de  acolhida  pelo  Dr. Promotor de  Justiça  da  comarca,  que  ofereceu  denúncia  contra  22  pessoas.

 Felipe  Guerra  -  o  estudioso  das  secas  e  Desembargador (Cunhado  de  Tilon  Gurgel)  teve  a  desfaçatez  de  afirmar, em  seu  livro  intitulado "AINDA  O  NORDESTE", pág. 79, publicado  no  ano  de  1927,  que  "No  Rio  Grande  do  Norte  não  existia  cangaceirismo", quando  já  era  pública  e notória  a  atuação  do  bando  de  jagunços  comandados  por  Décio  Holanda, com  o  ostensivo  apoio  do  seu  sogro  Tilon  Gurgel.  Em  Dezembro  de  1925  o  Capitão  Jacinto  Tavares, que  se  encontrava  como  Delegado  Especial  em Apodi  desde  o  mês  de  Abril, apreendeu  dois  rifles  de  Tilon, portados  por  dois  jagunços  do  mesmo, que  tinham se dirigido  ao  Apodi  em  diligência,  até  à  presença do  Juiz  de  Direito, que  por  não  se  achar  na  cidade, fez  com  que  os  jagunços  se  encaminhassem, inadvertidamente, à  presença  do  Capitão  Jacinto.  Vejamos  a  íntegra  do  requerimento  do  Tilon  Gurgel, dirigido ao  então  Diretor  do  Departamento  de  Segurança  Pública  do  RN,  Dr. Adauto  da  Câmara,em  18.09.1928:

 "Tilon  Gurgel,  criador,comerciante,agricultor  em  Brejo  do  Apody  prendeu  em  dias  do  mês  de  Dezembro  de  1925  um  indivíduo de  nome  Manoel  Delfino  porque  tentava  matar  sua  própria  mulher, e  escoltado  mandou  o  referido  indivíduo  para  a   cidade  do  Apody  a  fim  de  até  ser  o  mesmo  apresentado  as  respectivas  autoridades  policiais, que  por  segurança  das  pessoas  que  conduziram  o  criminoso  forneceu  dois  rifles  de  sua  propriedade.  Acontece  porém  que  o  Capitão  Jacinto  Tavares
então  Delegado  Especial  do  Apody  ao  receber  o  criminoso  apreendeu  os  dois  rifles  e  estes  não  mais  foram   entregues  ao  suplicante.  Nestes  termos  atenderiam  que  as  mesmas  armas  são  para  a  defesa  do  suplicante  residente  em  um  sítio  distante  dos  meios  populosos  onde  há  necessidade  de  tal  recurso, para  a  segurança  individual  e  da  propriedade. Requer  a  V. Excia  a  entrega  das  duas  armas  acima  referidas  as  quais  se  encontram  ainda  em  poder  da  polícia.

         P.  Deferimento.                                                                                                                                                             
                    Natal,  18  de  Setembro  de  1928.                                                                                                                                                

                   O  Diretor  do  Departamento  de  Segurança  Pública  exarou  o  seguinte  despacho: "Informe  o  Capitão  Jacinto  Tavares".


Marcos Pinto - HISTORIADOR APODIENSE.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

APODI PERDE UM GRANDE FILHO! "Morre o bispo Diocesano Dom José Freire de Oliveira Neto"


Faleceu  na madrugada de hoje por volta das 5h30, no Hospital Wilson Rosado (Mossoró), o bispo emérito dos católicos da região Oeste,Dom José Freire de Oliveira Neto. Ele completaria  84 anos no dia 9 de março próximo.

O corpo do bispo virá agora pela manhã para sua cidade natal, Apodi, para ser velado por seus conterrâneos. Às 14h, o corpo retornará para ser velado na Catedral  de Santa Luzia. O sepultamento deverá ocorrer amanhã, dia 11 de janeiro de 2012, às 9h, na própria Catedral de Santa Luzia.

Dom José Freire sofreu uma hemorragia cerebral no dia 30 de dezembro, sendo socorrido ao Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM). Passou por cirurgia e foi removido à UTI do Hospital Wilson Rosado.

Sua Biografia

Dom José Freire de Oliveira Neto, 5º bispo de nossa Diocese (1984-2004), nasceu em Apodi (09/03/1928).

Foi ordenado padre em Roma (22/09/1956), cursou Filosofia em São Leopoldo/RS (1950-1952), Teologia em Roma (1952-1956), Especialização também em Roma (1972-1975) e foi sagrado bispo em Roma – Capela do Pontifício Colégio Pio Brasileiro (02/06/1974).

Iniciou sua missão episcopal como bispo auxiliar de Dom Gentil Diniz Barreto (1975-1979), foi bispo Coadjutor (1979-1984) e bispo Diocesano (1984-2004). Escolheu como lema: “Semelhante a Ele na morte.”

Foi responsável junto a Dom Albano Cavallim, pela elaboração do documento “Catequese Renovada.”São frutos de sua missão a Comissão Pastoral da Terra, o SEAPAC (Serviço de Apoio a Projetos Alternativos) e a Comissão de Justiça e Paz. Era bispo Emérito da Diocese de Mossoró desde 2004.

Apodi e Mossoró lamentam essa grande perda da geografia humana das cidades. Nossas condolências a todos familiares. Que descanse em paz.


Com informações de Pádua Campos

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O "FOGO DE PEDRA DE ABELHAS". (II).

        Em  15 de  Abril de  1925, com  o  seu  eleitorado  sofrendo  contínuas  ameaças  veladas  e  chibateamentos  e  tropelias  praticadas  pelos  jagunços  de  Décio  Holanda  e seu  sogro  Tilon  Gurgel,  deliberou  o  Coronel  JOÃO  JÁZIMO  PINTO  ir  até  Natal  para, em  audiência  com  o  governador  Dr.  José  Augusto  Bezerra  de  Medeiros, narrar-lhe  a  triste  situação de  apreensão   pela  qual  estava  padecendo a  grei  Apodiense, com  as  frequentes  incursões  da  jagunçada  comandada   pela  satânica  dupla,  na  cidade,  e  nos  sítios  pertencentes  aos  eleitores  da  sua  facção  política  pacifista.  Após  minuciosa  exposição  feita  pelo  Cel. Jázimo,  o governador  prontamente  enviou   para  a  cidade  de  Apodi  um  contingente  policial  formado  por  40  praças, comandada  pelo  respeitado  e  temido  Capitão  Jacinto Tavares  Ferreira, onde  ficou  aquartelada.  No dia  imediato  a  sua   chegada, o  Capitão  Jacinto  fez  uma  varredura  no prédio/sobrado  pertencente  ao Sr.  Martiniano  de  Queiroz  Porto,(Natural do Ceará) truculento  capitalista  que  compunha  a  virulenta  facção política   oposicionista  comandada  por  Tilon  Gurgel, Sebastião  Paulo  Ferreira  Pinto, João  de  Deus  F. Pinto, Juvêncio  Barrêto, e  os  irmãos  Benedito  Saldanha  e  Quincas  Saldanha.  Na  incursão  feita  à  residência  do  Martiniano, foram  encontradas  farta  munição e  30  fuzís, razão  pela  qual  despertara a  atenção  do  Capitão  Jacinto  para  a  possibilidade  de  que  o  mesmo  estava  intentando  formar  milícia  particular.  Martiniano  tinha  um jagunço  que  residiu  muitos  anos  com  ele  e  que atendia  pelo  nome  de  Júlio  Porto, que  em  1927  já  integrava o  bando  de  Lampião, quando  este  acoitou-se  na  fazenda  Bálsamo, no  Pereiro-CE, preparando-se  para  os   ataques  à  Apodi  e  Mossoró.  Há  quem  afirme  que  a  fazenda  "Bálsamo"  tinha  uma  parte  que  pertencia  a José  Cardoso. 
Casa de Quincas Saldanha antigo QG do Cangaço 
 Com  a  atuação  de  eficaz  comando  e  vigilância  do  Capitão  Jacinto, que  os  celerados  Benedito  e  Quinca  Saldanha  referiam-no   como sendo  "O Jacintão",(Pela estatura elevada) os  sicários  Juvêncio  Barrêto  e  Martiniano  Porto  mudaram-se  do  Apodi,(Final de Maio  de 1925). O  primeiro  voltou  a  Martins, de onde  era  natural,  e  o segundo  fixou  residência  em  Pau  dos  Ferros-RN, onde  o  seu  genro  Dr. José  Vieira  era  o  Juiz  de  Direito  da  comarca.  Sentindo-se  coibidos  na  prática  contumaz  da  intimação, a  horda  virulenta  comissionou  a  Tilon  Gurgel  e  a Benedito  Saldanha  para  parlamentarem  com  o  governador, sob  a  falsa  alegativa  de  que  a  força  policial  estava  a  causar  transtornos  na  região  do  Apodi, cuja  arguição  visava  retirar  a  força  policial  sediada  em  Apodi.  Quando  encontravam-se  em  audiência  com  o governador, recebem  telegramas  informando-os  da  ocorrência  do  "FOGO  DE  PEDRA  DE  ABELHAS".  
Polícia exibe cabeça de cangaceiro decepada   
Na  manhã  do  dia  12  de  Maio  de  1925  a  tropa  policial  dirigiu-se  até  a  povoação  de  "Pedra  de  Abelhas", objetivando  efetuar  as  prisões  de  Décio, Tilon  Gurgel  e  toda  a  jagunçada.  Antes  da  força  policial  chegar  ao  seu  destino, já  Décio  e  Tilon  eram  sabedores  de  que  o  contingente  estava  vindo  aos  seus  encontros,  por  mensageiro  enviado  por  Martiniano  Porto  e  Sebastião  Paulo.  Quando  Décio  Holanda  preparava-se  para  debandar  com  seus " cabras", empreendendo  fuga rumo  ao  
Ceará, eis  que  surge  a  tropa  policial, travando-se  cerrado  tiroteio,no  lugar  "Barrocas  do  Boqueirão", culminando  com  a   desesperada  fuga  da  jagunçada  no  rumo  do  rio  Apodi,  situado  nas  imediações.  Na  ocasião  do  embate, morreu,  afogado, um  "cabra"  de  Tilon  Gurgel, de  nome  Mamédio  Belarmino  dos  Santos, da família  dos  "Caboclos", do  sítio  "Brejo  do  Apodi".   
Chefe de cangaceiros Massilon Benevides
Após  este  entrevero  bélico,  a  tropa  policial  retornou  ao  Apodi,  com  a  missão  de  retornar  no dia  seguinte, o que  não  se  efetivou  pela  informação  concreta  de  que  o  grupo  armado  do  Décio  se  homiziara  no  Ceará.  Depois  desta  ocorrência coibitiva, a  paz  voltou  a  reinar  naqueles  rincões, mas, por  pouco  tempo, pois  em  10  de  Maio  de  1927  o  Tilon  Gurgel  arquitetou, via  Décio  Holanda,  o  ataque  de  parte  do  grupo  de  Lampião ao  Apodi, comandado  por  Massilon, cujas  minudências  serão objeto  de  outro  artigo.

Por Marcos Pinto - HISTORIADOR APODIENSE

O "FOGO DE PEDRA DE ABELHAS". (I).

Paredão de calcário quê deu origem ao nome
Pedra de Abelha a atual cidade Felipe Guerra
A  primeira  denominação  toponímica  do  atual  município  de  Felipe  Guerra-RN   foi  "PEDRA  D'ABELHAS", que    deriva do fato  histórico  de  que existia,  e  ainda  existe, um  enorme  bloco  calcário  com um buraco  em  sua  estrutura, que  ao  longo  de  remoto  tempo  tem servido como  espécie  de  colméia  natural, proporcionando  a  situação  de  grandes  enxames  de  abelhas  nativas  da  região. Esta  pedra  está  situada  na encarpa  da serra  do  Apodi, ao  lado  da  estrada  que  dá  acesso  ao  sítio  "Brejo  de  Felipe  Guerra", antigo  "Brejo do Apodi". Até  o  ano  de  1948  esta  estrada  constituía  o  caminho  de  todos  os  viajantes  e  comboeiros  que  demandavam  da  região  do  Oeste e Alto Oeste  no  rumo  de  Mossoró.  Daí que  a  antiga  cidade  denominada  de  "Pedra  de  Abelhas"  surgiu  como  núcleo  estradeiro. 
Com  exceção  da  família  GURGEL  DO  AMARAL, oriunda  de  Aracati-CE,  todas  as  famílias  do  município  de  Felipe  Guerra  tem  origem  na  fértil "Várzea  do  Apodi", cujas  terras  de  aluvião  tem  sido  a  força  motriz  do  progresso  e  do  desenvolvimento   do  Vale  e  do  município  do  Apodi.  Para  adentrar  no  assunto  que  dá  título  à  este  despretensioso  artigo, há que se  ressaltar  que,  desde  o  dia  em que  houve  o  rompimento  político  entre  as  famílias  PINTO  e  GURGEL, ocorrido  no dia  02 de Dezembro  de  1897, entre  os  patriarcas  Coronel  ANTONIO  FERREIRA  PINTO  e  Coronel  FRANCISCO  GURGEL  DE  OLIVEIRA (Bisavô materno  de  Laire Rosado),nasceu  uma  predisposição  político/ belicosa  entre  o  povo de  "Pedra  de  Abelhas" e os  Apodienses.
Neste dia, o  Cel. FERREIRA  PINTO  fez  veemente  protesto  perante  os seus  pares,  na  tribuna  da Assembléia  Legislativa  potiguar (Investido  no primeiro mandato de Deputado Estadual) contra  a  injustificada  atitude  de  rompimento  político  do  Coronel  GURGEL  com  o  Dr.  Pedro  Velho, responsável  pela    instalação   do  regime  republicano  no  RN  em 1889.  Ocorre  que o  patriarca  da  família  GURGEL  em  "Pedra  D'Abelhas" - O  Capitão  TIBÚRCIO  VALERIANO GURGEL  DO  AMARAL (Natural do Aracatí-CE),era  tio  materno  do  Coronel  Francisco  Gurgel  de  Oliveira (Coronel  Gurgel) e, como tal, apoiou  a  tomada  de  decisão  política  do  sobrinho.
Felipe Guerra
 Tibúrcio  era  o  pai  de  TILON GURGEL  DO  AMARAL.  A partir  daí, nasceu  o  espírito  de  rivalidades  recíprocas  entre  os  Apodienses  e  os  "Pedrenses  de  Abelhas", cuja  rixa  perdurou  até  o  ano  de  1963,(18.09.1963)  quando  o  então  Distrito  de  "Pedra  de  ABelhas"  foi  elevado  ao  predicamento  de  cidade  e  município, com  o  nome  de  FELIPE  GUERRA, em  homenagem  a  um  cunhado de  Tilon  Gurgel.  Felipe  Guerra  era  casado  com  uma  irmã  de Tilon  Gurgel.  Faço a  observação  de  que  o  Dr. Felipe  Guerra  não  trouxe  nenhum  benefício  para  a  comuna  de  "Pedra  de  Abelhas",  para  tutelar   a  razão  de  ter  o  seu  nome  como  patrono  toponímico  do  novel  município. 
Casa de Tilon Gurgel

                     Apesar  de  liames  familiares  existentes  entre  os  Coronéis  FERREIRA  PINTO  e  GURGEL -  o  primeiro  tinha  a  avó paterna  como  irmã  do  pai  do  segundo, ou seja, dona  JOAQUINA  MARIANA  DE  JESUS  era  irmã  do  Tenente-Coronel  Antonio  Francisco  de  Oliveira  -  pai  do  Coronel  Francisco  Gurgel  de  Oliveira (Coronel  Gurgel),  a  indisposição  política  foi  se  acirrando  entre  essas  duas  famílias  tradicionais.  No  ano  de  1913  houve  uma  ligeira  trégua, com  os  casamentos  de  dois componentes da  família  PINTO  com  duas moças  da  família  GURGEL:   Dr. Vicente  Ferreira  Pinto, Promotor  Público, filho  do  Coronel  FERREIRA  PINTO, com  a  Srita  FILOMENA  GURGEL, irmã  de  Tilon  Gurgel , e  o  agropecuarista  FRANCISCO DIÓGENES  FILHO (Sêo  Diógenes - pai  de  Zé  Diógenes) casou  com  CAETANA  GURGEL  FILHA (Dona  Caetaninha) também  irmã  de  Tilon  Gurgel.  Sêo  Diógenes  era  sobrinho  materno   do  Dr. Vicente  Pinto.  Em  1919  reacendeu  a  intriga  familiar  e  política  entre  estas famílias, originada  no  fato  de  que  dois  componentes  da  família  PINTO  abriram  dissidência  política  -  Os  Srs. SEBASTIÃO  PAULO  FERREIRA  PINTO  e  seu  primo  JOÃO  DE  DEUS  FERREIRA  PINTO, que  se  aliaram  à  cerrada  oposição  à  família  PINTO, liderada  por  Tilon  Gurgel.  
Tilon Gurgel

A  partir  deste  ano  de  1919  o  município  de  Apodi  e  seu  povo  passou  a  ser  teatro  de  correrias  e  tropelias  protagonizadas  por  jagunços  componentes  da  milícia  particular  comandada  por  DÉCIO   HOLANDA, cearense  do  Pereiro, onde  em  1927  "acoitou" o bandido  Lampião  e  seu  bando, na  sua  fazenda  de  nome  "Bálsamo".  Neste mesmo  ano  de  1913,  o  Coronel  FRANCISCO  FERREIRA  PINTO  casou  com  sua  prima  MARIA  SALOMÉ  DIÓGENES  PINTO (Irmã  de  Sêo  Diógenes), que  fora  adotada  em  criança  pelo  Coronel  JOÃO  JÁZIMO  DE  OLIVEIRA  PINTO  e  esposa  ISABEL  SABINA  DE  OLIVEIRA  FILHA (Bebela  de  João  Jázimo). Aquí, cabe  fazer  uma  explicação  de  cunho  genealógico:  João  Jázimo  casou  com  uma parente  e  enteada  do  seu  genitor.  Bebela  era  irmã  de  Francisco  Diógenes  Paes  Botão, que  casou  com  Antonia (Toinha - Filha do Coronel  Ferreira  Pinto  e  de  Claudina  Pinto)  e foram  pais  de  Salomé  Pinto  e  Sêo  Diógenes.  Salomé  era, ao  mesmo  tempo, sobrinha  materna  de seus pais  adotivos João  Jázimo  e sobrinha  materna  da  mulher  de  João  Jázimo  - no  caso  Bebela. 
Cel. Francisco Pinto

  Sêo  Diógenes  passou  por  uma  situação de  extremo  vexame  em  02  de  Maio  de  1934,  quando  o  Coronel  Francisco  Pinto  foi  assassinado  em Apodi, tendo  como  mandante o  seu  cunhado  Tilon  Gurgel, mancomunado  com  o  não  menos  truculento  Luiz  Leite.  Sêo  Diógenes  era, ao  mesmo  tempo, cunhado  do  Coronel  Francisco  Pinto (Casado com sua  irmã  Salomé) e  de  Tilon  Gurgel (irmão de  sua  esposa  Caetaninha).

Por Marcos Pinto - HISTORIADOR APODIENSE