Nos primeiros tempos de colonização européia no RN, via Bahia (Região do rio São Francisco) e Pernambuco, a região do Apodi não apresentou efetiva ocupação territorial, tendo em vista a forte resistência indígena e as barreiras naturais que dificultavam o acesso. Foram duas as correntes de povoamento do Apodi: A primeira veio de Pernambuco, passando pela Paraíba, de onde desciam pela antiga "Estrada Real", que demandava para a região jaguaribana. Manoel Nogueira seguiu o trajeto desta primeira corrente. A segunda veio pela região do Assu, onde no ano de 1686 ficou aquartelado o famoso "TERÇO DOS PAULISTAS", comandado pelo octogenário Manuel de Abreu Soares.
No livro de REGISTRO DAS SESMARIAS DO RN, consta a concessão de Carta de Data de Sesmaria concedida em 19 de Fevereiro de 1680 a Manoel Nogueira Ferreira, João Nogueira Ferreira, Antonia de Freitas Nogueira, e seus companheiros/requerentes Domingos Martins Pereira, Capitão Bartolomeu Nabo Correia, Alferes Gonçalo Pires de Gusmão, Capitão Luis Braz Bezerra, Capitão Luiz Antunes de Farias e Manoel Roiz da Costa, cuja concessão doava três léguas de terras à cada requerente, cujas terras englobavam os rios "Piranhas" e "Guaxinim", na região do Assu. Conforme consta no mesmo livro de sesmaria, estes requerentes desistiram de povoarem as terras que lhes foram concedidas, no mesmo ano. Ocorre que, já no dia 19 de Abril de 1680 Manoel Nogueira e estes mesmos companheiros recebem a concessão em Apodi, que os índios denominavam apenas de "Pody". Diante este cenário, resta a indagação: Teria Manoel Nogueira e seus irmãos e demais requerentes estado na região do Assu antes de aportarem em Apodi ? No requerimento dão a entender que sim, conforme afirmam: "...Pela qual razão querem povoar nesse sertão e tem dado combate aos tapuias para lhes mostrar onde há terras desaproveitadas....querem povoar ainda que seja com risco de suas pessoas e fazendas, por serem paragens ermas e despovoadas, donde os antigos nunca se atreveram a povoar...". Observe-se que também era comum o fato de que dois ou três bravos colonizadores exploravam as terras e quando as requeriam acrescentavam nomes de amigos e parentes, para açambarcarem vastas extensões de terras, que deram origem aos latifúndios.
A verdade é que o bravo MANOEL NOGUEIRA e família, acompanhados por alguns escravos tiveram uma vida de correrias e tropelias, no enfrentamento da indiada rebelde. Davam, apanhavam, iam embora, retornavam, sendo certo que só tiveram uma certa tranquilidade quando o famoso "TERÇO DOS PAULISTAS" fez uma longa incursão até a lagoa Pody, no ano de 1689, conforme afirma o celebrado e respeitado historiador brasileiro ERNESTO ENES, no volume 127 da Coleção "Brasiliana": "...Pedro de Albuquerque Câmara, Bernardo Vieira de Melo, Valentim Tavares Cabral e Agostinho César de Andrade tomaram parte na marcha que se fez do Olho d'água aos rios paneminha e panema grande, até a lagoa Pody. No combate da lagoa do Apody estiveram outros soldados como João do Monte" . Vide (pág. 409) e Luiz da Silveira Pimentel (pág. 269).
A saga dos NOGUEIRA teve início em 1680, continuando até o dia 11 de Junho de 1685, quando retornaram à Paraíba em busca de recursos, a fim de darem continuidade aos trabalhos de exploração do novo território. Em 17 de Novembro de 1688 ocorreu o famoso embate entre a família NOGUEIRA e os índios Paiins, na margem da lagoa do "Apanha-Peixe", onde tombaram mortos os bravos João Nogueira e Balthazar Nogueira, forçando o grupo familiar a debandarem em fuga para a região jaguaribana, no Ceará. A indômita ANTONIA DE FREITAS NOGUEIRA, que chegara ao Apodi em estado de viuvez, casou no ano seguinte - 1681, com o português Manuel de Carvalho Tinoco, sendo certo que em um dos livros de registro de batizados constante do acervo da Igreja-Matriz de N. Sra. da Apresentação, da cidade de Natal, consta a presença deste casal residindo nas imediações de Natal, em São Gonçalo do Potengi, onde Antonia de Freitas batizou cinco filhos, no período 1695 a 1706.
Quando o Sargento-Mór de Entradas MANOEL NOGUEIRA faleceu em sua fazenda "Outeiro"(Onde hoje é o "Quadro da Rua") em 17 de Janeiro de 1715, toda a várzea do Apody, do sítio "Boqueirão" aos sítios "Santa Rosa" e "Santa Cruz" já estava de posse e domínio de componentes de sua família - filhos, cunhados e parentes afins. Foram os primeiros curraleiros. Os índios do Apodi, que no início da colonização "fervilhavam como formigas" nas margens da lagoa Itaú (Depois lago Pody, e lagoa Apody) e dos rios Panema Grande (Depois rio Apody) e Paneminha (Depois rio Umary), sempre foram alvos da sanha dos conquistadores e dos aventureiros, que não sossegaram enquanto não eliminaram ou segregaram o último sobrevivente dessa raça nativa.
ÍNDIO TAPUIA PAIACUS(Pintura de Eckhout Ano-1641) |
Por Marcos pinto - Historiador apodiense.
3 comentários:
Muito interessante essa matéria, assunto que vem complementar os fatos ocorridos na Capitania do Ceará. A família Nogueira Ferreira esteve presente aqui, pedindo datas de sesmarias e envolvendo-se na Revolta Popular de 1724 (Guerra entre Montes e Feitosa). Teodozio Nogueira Ferreira foi um dos cabeças desse levante, ao lado da dos Montes e dos Ferreira Lobato, contra os Feitosa e outros. Tenho a posse de documentos inéditos a esse respeito, porém busco a gênese dessas notáveis famílias provindas do RN. Se o sapiente e ilustre colega puder me ajudar, será de grande valia o esforço nesse sentido, e bilateralmente vantajoso. Se tiveres interesse, procure-me no seguinte endereço: http://estoriasehistoria-heitor.blogspot.com.br
Muito interessante essa matéria, assunto que vem complementar os fatos ocorridos na Capitania do Ceará. A família Nogueira Ferreira esteve presente aqui, pedindo datas de sesmarias e envolvendo-se na Revolta Popular de 1724 (Guerra entre Montes e Feitosa). Teodozio Nogueira Ferreira foi um dos cabeças desse levante, ao lado da dos Montes e dos Ferreira Lobato, contra os Feitosa e outros. Tenho a posse de documentos inéditos a esse respeito, porém busco a gênese dessas notáveis famílias provindas do RN. Se o sapiente e ilustre colega puder me ajudar, será de grande valia o esforço nesse sentido, e bilateralmente vantajoso. Se tiveres interesse, procure-me no seguinte endereço: http://estoriasehistoria-heitor.blogspot.com.br
Prezado Historiador e Genealogista Heitor Feitosa,foi com intensa satisfação que lí e relí seu comentário sobre despretensioso artigo supra citado. De antemão informo-lhe que em Apodi existe a família FERREIRA FERRO e também FEITOSA,cujos troncos oitocentistas vieram do Ceará. Com certeza encetaremos importantíssimo intercâmbio histórico e cultural que culminará em enriquecimento dos anais históricos de Apodi e do Ceará. Gostaria de saber o seu E-mail para contato com Vosmincê. O meu E-mail é: marcospinto.52@hotmail.com
Receba efusivo abraço deste seu futuro Confrade.
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