domingo, 4 de março de 2012

PEDRO NORONHA - UM DESBRAVADOR APODIENSE NA FLORESTA AMAZÔNICA.(II).

Pedro Noronha e os seringueiros apodienses
   A  saga  do  segundo  ciclo  econômico  da  borracha (1942/1945)  na  floresta  amazônica  tem  nomes  de  inúmeros  Apodienses  amalgamados  nas  páginas  de  sua  sua  história.  Posso  imaginar  suas  horas  de  angústias  e  aflições   caladas  e  reprimidas  na  solidão  de  suas  noites,  no  isolamento  daquela  floresta  a  que  voluntariamente  se  recolheram  na  busca  por  melhores  dias  para  suas  famílias  que  ficaram  em  Apodi.  Todas  as  contingências  adversas  foram, sem  dúvidas, embora  jamais  externados, profundos  choques  que  lhes  atingiram  os  corações  generosos.   Lá  no  seringal  muitos  se  deixaram  ficar, sem  perspectivas  senão  o  descanso  final  para  corpos  baqueados  pela  malária  e  febre  amarela.  Foram  homens   que  as  mais  humildes  ilusões  perderam  no  seu  cotidiano  e  ingrato  labutar.  Heróis  anônimos  que  equilibravam-se  de  acordo  com  as  circunstâncias, entre  tendências  em conflito  e  a  permanente  insatisfação  pelo  salário  obtido  na  extração  do  látex, não  condizente  com  os  árduos  dias  de  suor  e  lágrimas.  O  desenvolvimento  urbano  das  cidades  de  Manaus  e  Belém  do  Pará  deve-se  à  estes  intemeratos  homens, sendo  certo  que  muitos  Apodienses  resolveram  fixar  residência  definitiva  nestas  cidades  polos, concretizando  a  triste  realidade  dos que  fizeram  O  CAMINHO  SEM   VOLTA. 
SEMTA - Serviço  Especial  de  Mobilização
de  Trabalhadores  para  a  Amazônia.
 
   Não  há  como fazer  a  abordagem  histórica  sobre  o  segundo  ciclo  econômico  da  borracha  sem  fazer  referência  ao  SEMTA -  Serviço  Especial  de  Mobilização  de  Trabalhadores  para  a  Amazônia.  Criado  em  1943  pelo  então  Presidente  Getúlio  Vargas, tinha  como  finalidade  principal  o  alistamento  compulsório, treinamento  e  transporte  de  nordestinos  para a  extração  da  borracha  na  amazônia.  A  matéria-prima  era fornecida  aos  aliados  da  II  Guerra  Mundial.   O  SEMTA  fazia  parte  do  Departamento  Nacional  de  Imigração (DNI). Era  financiado  por  um  Fundo  Especial  da  RUBER  DEVELOPMENT  CORPORATION (RDC), criado  com  o selamento  dos  acordos  de   Washington - E.U.A. O  RDC   era  financiado  com  capital  das  indústrias  Estadunidenses.  O  SEMTA  tinha  a  sua  sede  em  Fortaleza.  O  indômito  PEDRO  NORONHA foi  uma  figura  de  proa  no  processo  de  agenciamento  e  recrutamento  de  mão-de-obra  desses  heróicos  homens  e  mulheres  Apodienses, que  deixaram  sua  terra  e  sua  gente  para  enfrentarem  os  desafios  do  eldorado  amazonense.  A  escolha  do  nordeste  como  sede  do  SEMTA  deveu-se  essencialmente  como  resposta  a  uma  seca  devastadora  na  região  e  à  crise  sem  precedentes  que  os  agricultores  enfrentavam. 
 
Soldados da borracha, partindo de
Fortaleza, Ceará, no ano de 1943
 
    Pedro  Noronha  atuava  como  um  dos  prepostos  do  RDC/SEMTA, custeando  as  despesas  dos  deslocamentos  desses  trabalhadores  braçais,  que  logo  passaram  a  serem  conhecidos  como  "SOLDADOS  DA  BORRACHA".  De  Apodi  à  Fortaleza  a  viagem  era  feita  em  um caminhão  apinhado  de  homens.  Em  Fortaleza  eram  acomodados  em  locais  conhecidos  como  os  CURRAIS  DO  GOVERNO, de  onde  eram  conduzidos  até  o  Porto,onde  embarcavam  com  destino  à  Belém do  Pará  e  Manaus, numa  viagem  que  podia  durar  de  2  a  3  meses.  O  governo  dos  Estados  Unidos  pagava  ao  governo  brasileiro  100  dólares  por  cada  trabalhador  entregue  na  Amazônia. 

Navio que transportava os soldados da borracha
    O  Nordeste  foi  o  principal  fornecedor  de  mão-de-obra  para  a  extração  e  comercialização  da  borracha, tendo  enviado  54  mil  trabalhadores, sendo  30  mil  deles  apenas  do  Ceará. Observe-se  que  os  potiguares  eram  embarcados  em  Fortaleza  como  se  cearenses  fossem.  Como  os  seringais estavam  abandonados  desde  o  término  do  PRIMEIRO  CICLO  DA  BORRACHA -  1879/1912,  e  não  mais  de  35  mil  trabalhadores  permaneciam  na  região, o  grande  desafio  do  Presidente  Getúlio  Vargas  era aumentar  a  produção   de  látex (seiva/leite  vegetal  que  cozida  se  transforma  em  borracha) de  18  mil  para  45  toneladas, como  previa  o  acordo  com  os  Estados  Unidos. Para  isso  seria  necessário  a  força  braçal  de  100  mil  homens.  Dentre  os  Apodienses  recrutados  pelo  Sr. PEDRO  NORONHA  para  trabalharem  no  seringal  "Igualdade"  destacaram-se  a  viúva  dona  VIGOLVINA  e  seus  dois  filhos  JOÃO  e  PINTA, como  também  Manezim  Reinaldo e  esposa, pais  de  Raimundo  da  Cantina, que  nasceu  no  "Igualdade"  pelas   sacrossantas  mãos  de  uma  parteira, diligenciada  pelo  jovem  Francisco  Paulo  Freire (Chico  Paulo)  que  contava  18  anos  de  idade  e  também  labutava  naquele  famoso  seringal.   Cito,ainda, por  fonte  segura, os  seringueiros  Apodienses  CHICO  CACHIMBINHO   e seus  dois  genros  WILSON  NORONHA  e  NORONHINHA; JOÃO VALDEVINO, casado  com  Maria  de  Freitas, irmã  de  Sebastião  de  Freitas, que  por  sua  vez  era  genro  de  Pedro  Noronha, casado  que  era  com  Amélia  Noronha. Sebastião  era  natural  de  São  Sebastião  de  Mossoró, atual  cidade  de  nome  Governador  Dix-Sept  Rosado, filho  de  Pedro  de  Freitas  Costa  e  de  Raimunda  de  Freitas  Costa. Neto  paterno  de  Pragmácio, conhecido  como  PREGMÁCIO, muito  conhecido  por  ser  dono  de  uma  venda/rancho    à  margem  da  antiga  estrada  que  margeava  o  Rio  Apodi, em terras  da antiga  povoação  de  São  Sebastião  de  Mossoró.  Esta  pousada  do  PREGMÁCIO  era  ponto  de  parada  para  repouso  dos  animais  que  compunham  comboios de  mercadorias  e seus respectivos  comboieiros.  A  esposa  de  João  Valdevino  faleceu  em  decorrência  de  um  parto, em  que  a  filha  sobreviveu, o que  fez  com  que  o  mesmo  retornasse  com  a  filha  para  o  Apodi,  onde  tinha  um  sítio.  Mais  tarde  essa  filha  faleceu, à  exemplo  de  sua  mãe,   em  decorrência  de  parto.  A  composição  dos  seringueiros  do  "Igualdade"  contava  com  muitos  parentes  do  Pedro  Noronha, destacando-se  o  seu  irmão  JOSÉ  UMBELINO  DE  NORONHA  FILHO, que era  casado  com Alice  e que  no  ano  de  1944  tinha  duas  filhas  de  nomes  Estelita  e  Telina (Quelina). Tinha  o  JACINTO  NORONHA, sobrinho  de  Pedro, e  casado  com uma  filha  deste, de  nome  LINDALVA, ainda  vivos  e  gozando  de  plena  saúde. Tinha  o  JOÃO  BASÍLIO, genro  de  Pedro,  posto  que  casado  com  ISABEL  NORONHA. Ainda  as  figuras  do  SEBASTIÃO  NORONHA, que  era  surdo-mudo  e  primo  de  Pedro, casado  com  dona  QUERIDA, e  o  Sr. TIBÚRCIO  NORONHA, que tinha  uma  filha  com  problemas  psíquicos, de nome  Rita.  Labutavam  também  no "Igualdade"  os  intrépidos  irmãos  JOÃO  EVANGELISTA  PINTO  e  JOÃO  GOMES  PINTO, conhecido  como  JOÃO  DO SALGADO,filhos  de  Telésforo  Gomes  Pinto.  O  primeiro  era  casado  com  Maria  de  Lourdes, irmã  de  Palmira  Carvalho.  O  2°  era  casado  com  Maria  Severina de  Carvalho, irmã  de  Raimundo  Nonato  de  França, que  por  sua  vez  era  caado  com  PALMIRA  PINTO  DE  CARVALHO, filha  de  Antonio  Lucas  de  Carvalho  e  Antonia  Gomes  Pinto.  Raimundo  e  Palmira  foram  para  o  Amazonas  em  Junho  de  1949  com  uma  filha  de  dois  meses  de  idade, de  nome  FÁTIMA  FRANÇA, que colaborou  decisivamente  para a  elaboração  deste  despretensioso  artigo.  PEDRO  NORONHA  faleceu  em  12  de  Setembro  de  1987.
 
 Por Marcos Pinto - HISTORIADOR APODIENSE.

8 comentários:

Marcos pinto disse...

O segundo da esquerda(fila de trás) é o Sr. FRANCISCO PAULO FREIRE (Sêo Chico Paulo)que tinha a idade de 18 anos.

Marcos pinto disse...

Ao se inscrever no SEMTA o trabalhador braçal recebia um KIT SERINGUEIRO composto dos seguintes ítens: Uma calça de mescla azul,uma blusa de morim branco,um chapéu de palha, um par de alpargatas de rabicho,uma caneca de flandre,um prato fundo, um talher,uma rede,uma carteira de cigarros Colomy e um saco de estopa no lugar da mala. Vejam que a foto do SEMTA mostra uma mala, o que configura em propaganda enganosa.

Anônimo disse...

Òtimo trabalho! merece os parabéns! Agradeço também a prima´Fátima que me apresentou.
Sinto Orgulho de ver que um primo, um parente do meu querido Pai fica na história como um Grande Homem. Com certeza Ele sentiria uma alegria imensa se vivo estivesse para ver e acompanhar essa e tantas outras maravilhas que seus descendentes estão deixando no mundo! Pedro noronha, voce será bem recompensado pelo seu empenho e por toda a coragem, honestidade,sabedoria e preseverança em continuar até o final da obra. Parabéns!!! Vou publicar entre todos da nossa família Pinto. Cada vez mais temos prazer e orgulho de pertencer a uma família de vencedores, de gente forte, de homens de bem, e construtores de um mundo melhor.

Maria Zélia Pinto Bandeira
filha de João Domício F. Pinto ( com muito orgulho ) e saudades...

Anônimo disse...

Artigo muito interessante, sou sobrinha neta da Tia Mimosa ( sou neta de Francisca irmã ed Isabel). Foi muito bom ler o artigo, ouvi tantas vezes minha avó e minha mãe falarem sobre Pedro Noronha, e tambem ouvi muito Chiquinho e Alaide (que moraram em Igualdade) falarem sobre a vida no Amazonas. Parabens e muito importante fazer memoria! Iracema (filha de Raimunda Pinto) moro em Fortaleza.

Pedro Noronha Neto disse...

Ao ler esse fabuloso trabalho deste historiador conterrâneo, foi como se passasse um filme diante de meus olhos...Era o ano de 1959, já com 8 anos de idade. Lembro-me bem da viajem em um navio, eramos 9(pai, mãe e 7 filhos). Alguns Dormiam em redes que somente podiam ficar armadas até as 4 da madrugada e outros em cima das malas...
Ao chegarmos em belém, foi necessário passarmos alguns dias dormindo no armazém da SINAIPA...
era uma viajem sofrida, mas todos estavamos ansiosos pela nova vida.
Ao chegarmos em Manaus, o meu AvÔ PEDRO NORONHA, convidou meu pai LUCAS GOMES DE OLIVEIRA e toda nossa família para ir morar no Seringal IGUALDADE, que ficava há 11 dias de viajem daquela cidade, ás margens do rio PURUS. Com a negativa de meu pai, Tivemos que retornar para o RN, precisamente no Sítio Melancias.
Apesar de todo o Sofrimento e frustração da viajem, Papai não se deu por vencido e seguiu em frente montando um comércio e em 1967 chegamos em mossoró.
Foi onde iniciei minha trajetória, comçando em Armazém de sal da SOCEL, em seguida trabalhei no comércio, na universidade e em 1980 Assumi a Gerência do Bradesco no Estado do Maranhão e retornando em definitivo para mossoró(sonho antigo) em 1984... atuando no ramo de material de construção, móveis e eletro-domésticos...e atualmente no ramo de Auto Escolas com 4 unidades nesta cidade.

Pedro Noronha Neto disse...

Ao ler esse fabuloso trabalho deste historiador conterrâneo, foi como se passasse um filme diante de meus olhos...Era o ano de 1959, já com 8 anos de idade. Lembro-me bem da viajem em um navio, eramos 9(pai, mãe e 7 filhos). Alguns Dormiam em redes que somente podiam ficar armadas até as 4 da madrugada e outros em cima das malas...
Ao chegarmos em belém, foi necessário passarmos alguns dias dormindo no armazém da SINAIPA...
era uma viajem sofrida, mas todos estavamos ansiosos pela nova vida.
Ao chegarmos em Manaus, o meu AvÔ PEDRO NORONHA, convidou meu pai LUCAS GOMES DE OLIVEIRA e toda nossa família para ir morar no Seringal IGUALDADE, que ficava há 11 dias de viajem daquela cidade, ás margens do rio PURUS. Com a negativa de meu pai, Tivemos que retornar para o RN, precisamente no Sítio Melancias.
Apesar de todo o Sofrimento e frustração da viajem, Papai não se deu por vencido e seguiu em frente montando um comércio e em 1967 chegamos em mossoró.
Foi onde iniciei minha trajetória, comçando em Armazém de sal da SOCEL, em seguida trabalhei no comércio, na universidade e em 1980 Assumi a Gerência do Bradesco no Estado do Maranhão e retornando em definitivo para mossoró(sonho antigo) em 1984... atuando no ramo de material de construção, móveis e eletro-domésticos...e atualmente no ramo de Auto Escolas com 4 unidades nesta cidade.

Unknown disse...

Sou neto de SEBASTIANA DE OLIVEIRA TORRES que viveu no seringal IGUALDADE com seus pais.
O terceiro de fila de traz da esquerda para a direita é MANOEL AUGUSTINHO DE OLIVEIRA casado com JOANA MAFALDA DE OLIVEIRA que foram para o seringal com sua filha SEBASTIANA MAFALDA DE OLIVEIRA, depois já no seringal tiveram JOSÉ, RAIMUNDO E RAIMUNDA DULCE (DUCINHA), JOÃO VALDIVINO (irmão de JOANA)também trabalhou no seringal, na foto da direita para a esquerda da fila da frente...
Minha avó relembra com muita saudade dessa época e das pessoas que nunca mais viu...

Unknown disse...


Onde se lê JOSÉ UMBELINO NORONHA FILHO casado com Alice, leia-se:
JOSÉ UMBELINO DE NORONHA FILHO:
. Casou com Raimunda Angélica da Silveira, filha de José Freire de Oliveira, dono da fazenda "Ameno" (Apodi) e de Maria Angélica da Silveira.
. Foram pais de : :
SN.11. JACINTO JOSÉ DE NORONHA (Sula) - Já descrito.
SN.12- EDMUNDO NORONHA - Casou com sua prima em segundo grau Dilma Noronha Pinto, filha de João Basílio Pinto e Isabel Noronha.
SN.13- HERMES.
SN.14- ALAÍDE.
SN. 15- ALICE.
SN. 16- ELITA
SN. 17-DALVACI.
SN. 18- HELENA.
SN.19- ANGÉLICA.
SN.20 - ESTELITA.
SN.21 - MARIA MERCEDES (Quelina).
SN.22- MARIA DA SAÚDE.