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quinta-feira, 29 de agosto de 2013
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
CANGAÇO NO RIO GRANDE DO NORTE - A HISTÓRIA QUE NÃO FOI CONTADA (II).
        Quando   um  dia  se  fizer  um acurado  levantamento  de  fatos  considerados  históricos, atinentes  à  investida  de  Lampião    e  seu  bando  ao  Rio  Grande  do  Norte, restará  provado  e  comprovado  que  muitas  pessoas  que  viveram   a  contemporaneidade  desses  fatos, incorreram  em  voluntariosa  omissão, negando-se  a  darem  seus  depoimentos  a  pesquisadores/historiadores, cujos  depoimentos  seriam   de  suma  importância  para  o  cotejo  das  provas.  Esquivaram-se   sob  a  pusilânime  assertiva  de  que  omitiam-se  "por  medida  de  cautela, ocultando  evidências  que, segundo suas  pérfidas  óticas, seria  natural  em  quem  revolve  acontecimentos  de  ontem,  com  perspectivas  hodiernas  de  trazer   à  tona  fatos  adrede  combinados   para   serem  "guardados  à   sete  chaves", como  se  diz  no  sertão.
A partir do ano de 1915 foi instalado o clima de terror no município de Apodi, quando aportaram em Apodi os truculentos Srs. Martiniano de Queiroz Porto, oriundo da serra do Pereiro, no Ceará, e Juvêncio Augusto Barrêto, ambos trazendo seus jagunços, geralmente composto por celerados fugitivos da Justiça. Martiniano fixou residência na cidade, onde comprou um prédio residencial assobradado, onde escondia seus capangas. Juvêncio oriundo da cidade de Martins, onde renunciara ao cargo de Vereador, tendo se instalado em uma fazenda que comprara e que era denominada de "Unha de Gato", onde transformou em coito para vários cangaceiros, destacando-se Massilon Leite e Júlio Porto, então adolescente criado por Martiniano Porto. O nome civil de Júlio era Júlio Santana de Melo, tendo adotado o sobrenome Porto em homenagem à Martiniano Queiroz Porto. A vinda desses dois virulentos senhores para o Apodi deu-se em atendimento ao convite feito por Felipe Guerra e seu cunhado Tilon Gurgel, para cerrarem acirrada oposição política ao Coronel João Jázimo Pinto.
        Um fato  que  corrobora  o  gênio  irascível   e  virulento   do  Sr. Felipe  Guerra  atrela-se  à  minudência  de  que,  em  toda  sua  trajetória  de  Juiz  de  Direito  e  de  Desembargador  passou  mais  tempo  em  disponibilidade  do  que  mesmo  no  exercício  da  função  judicante.   Formou-se  uma  trinca sinistra  no  judiciário  estadual, com  atuação  na região  Oeste  do   estado,  composta  pelos  truculentos  Juízes   de  Direito  Horácio  Barrêto,(Sobrinho de  Juvêncio  Barreto)  que  ocupou  a  comarca  de  Pau  dos  Ferros, no  período  1901-1915, onde  casou  com  uma  moça  da  família  Diógenes, Felipe  Guerra,
José Fernandes Vieira (genro de Martiniano Porto) e João Francisco Dantas Sales. Os ânimos desse conluio de Magistrados foram acirrados com a investidura de Ferreira Chaves no governo estadual para o período 1914-1919, sendo certo que em 1919 Ferreira Chaves promoveu para Desembargadores os magistrados Horácio Barreto, sobrinho de sua esposa Alexandrina Barreto, e Felipe Guerra, que por sua vez convidou o seu amigo íntimo o Juiz de Direito João Francisco Dantas Sales para ocupar a Comarca do Apodi, consumando um plano adrede traçado para que este Juiz perseguisse a harmoniosa e pacífica hoste política da tradicional família PINTO, comandada pelos Coronéis João Jázimo Pinto e seu genro Coronel Francisco Pinto. Felipe Guerra era casado com uma irmã do não menos truculento Tilon Gurgel.
          O  período  da  titularidade   do  Juiz  João  Francisco  Dantas  Sales (1922-1925)  transformou  a região  do  Apodi  em palco  de  toda  sorte  de  atentados  à  integridade  física  e  à  propriedade  privada.  Esse  magistrado   transformou  sua residência  em  coito  para  os  celerados  Benedito  Saldanha e seu  irmão  Quinca  Saldanha,  famosos  chefe  de  grupo de  cangaceiros   instalados  em  Caraúbas,  em  sua  fazenda  denominada  de  "Setúbal".  O  douto  Juiz  chegou  ao   disparate  de  acoitar   em  sua  residência  a  um  arruaceiro  de  nome  Manoel  Elias  de Lima, que  acabara  de  praticar  uma  tentativa  de  homicídio  dentro  do  mercado  público  de  Apodi, quando  alvejara  com   um  tiro  de revólver  o  cidadão  Vicente  Gomes  de  Oliveira.   Observava-se  às  escâncaras  o  conúbio  criminoso-protetivo  existente   entre  o  Juiz  João  Dantas  Sales  e  os  Chefes  de  cangaceiros  Décio  Holanda/Tilon  Gurgel,  Martiniano  Porto/Juvêncio  Barrêto,  Benedito  Saldanha/Quinca  Saldanha.
Há um fato emblemático contido no Processo-Crime de Nº 486/1925,(Comarca de Apodi) em que aparece como indiciado o celerado Décio Holanda , cujo nome civil era Décio Sebastião de Albuquerque, e que representa um liame com o ataque de Lampião e seu grupo à Mossoró. Trata-se do depoimento do respeitável cidadão Vicente Gomes de Oliveira, prestado a 03.05.1925, que dentre outras arguições, afirmou: " Que é público e notório nesta cidade do Apodi, que Décio Sebastião de Albuquerque comprou em Mossoró dois mil cartuchos com balas para rifle e que estão depositadas em sua propriedade "Pedra das Abelhas" neste município. Na época correram rumores que a compra do arsenal bélico feita pelo Décio fora intermediado por Felipe Guerra e Jerônimo Rosado. Que Décio tem em sua casa de residência, na residência de seu sogro Tilon Gurgel e na casa de Belarmino de Tal, tudo na mesma propriedade "Pedra das Abelhas" e em sua outra propriedade denominada "Pacó" grande quantidade de armamentos e mais munições para o fim de atacar com cangaceiros os habitantes desta cidade amigos políticos do Coronel João Jázimo, ao própiro Cel. João Jázimo, atacando simultaneamente a força pública mandada pelo governador do estado para manter a ordem nesta cidade".
       Como  o  Juiz  João  Dantas  Sales  soube  no  mesmo  dia  03  de  Maio  que  o  então  Delegado  Especial  Capitão  Jacinto  Tavares  Ferreira  ouvira  em  depoimento  o  Sr. Vicente  Gomes  de  Oliveira, e que  nesse  mesmo  dia  o dito Delegado  mandara  lavrar  Auto  de  Busca  e  Apreensão  a  ser  cumprida  por  um  efetivo  policial  composto  por  40  praças  e  um  Sargento  no  dia  seguinte , enviou  mensageiro  especial  para  a  fazenda  "Pedra  das  Abelhas"  avisar  aos  bandoleiros  Décio  Holanda  e  Tilon  Gurgel, que  neste mesmo  dia  enviaram  o  arsenal  em  comboio  animal  para  a  fazenda  dos  celerados  Benedito  e  Quinca  Saldanha, em  Caraúbas.  O  certo  é  que, efetivamente  a  04  de  Maio  de  1925  a  tropa  policial  dirigiu-se  para  "Pedra  das  Abelhas", onde  no  lugar  conhecido  como  "Saco  do  barro"  houve  o  confronto  entre  a  jagunçada  de  Décio  Holanda/Tilon  Gurgel, evento  que   inserí  nos  anais  históricos  como  tendo  sido  O  FOGO DE  PEDRA  DE  ABELHAS, cujo  relato  foi  objeto  de  artigo  publicado  em  plaquete,  pela  Coleção  Mossoroense,  e  no  Blog  "Honoriodemedeiros.blogspot.com".
A fidagal amizade existente entre Felipe Guerra e Jerônimo Rosado remonta ainda ao ano de 1907, quando cerraram fileiras em Mossoró com o Coronel Vicente Sabóia de Albuquerque (parente de Décio) na luta pela implantação do ramal ferroviário Porto Franco - Mossoró. Em Setembro de 1926 o então Desembargador Felipe Guerra foi posto em disponibilidade, quando então retornou à Mossoró para assessorar o amigo Jerônimo Rosado. Nasceu aí o complô para a vinda de Lampião à Mossoró, com o fito único de eliminar o Prefeito Rodolfo Fernandes e proporcionar a volta do Jerônimo Rosado ao poder municipal. Jerônimo Rosado havia sido Presidente da Intendência Municipal de Mossoró (cargo que em Agosto de 1926 passou a ser denominado de
Prefeito) , tendo como Vice-Presidente (Vice-Prefeito) o Dr. Antonio Soares Júnior, médico e genro de Felipe Guerra.
Lembro-me que o meu avô paterno Aristides Ferreira Pinto,(1907-1975) que era irmão legítimo do Coronel Francisco Pinto,(1895-1934) contou-me pormenores da carta enviada pelo irmão ao seu parente Rodolfo Fernandes, informando, dentre outros detalhes, que soubera por fonte fidedigna, de que o arsenal comprado por Décio Holanda em Mossoró no ano de 1925, fora transferido em comboio animal noturno, da fazenda dos Saldanha em Caraúbas, para a fazenda "Bálsamo", de Décio Holanda, encravada na serra do Pereiro, no Ceará. Nos depoimentos dados em Pau dos Ferros pelos cangaceiros MORMAÇO E BRONZEADO foram unânimes em afirmarem que Lampião passou mais de um mês acoitado com o seu bando entre as fazendas de Décio Holanda e seu primo Zé Cardoso, preparando-se para o ataque à Mossoró, e que Lampião recebera de Décio e Zé Cardoso dois mil cartuchos com balas para rifle.
Em uma das edições do Jornal mossoroense "Correio do Povo" consta um comunicado de que o chefe de cangaceiros Benedito Saldanha, dias depois do ataque de Lampião à Mossoró, telegrafara ao então Chefe de Polícia do estadual Dr. Benício Filho (Manuel Benício de Melo Filho) informando que o cangaceiro Coqueiro, que fora um dos cangaceiros que atacara Mossoró, fora morto em sua fazenda "Várzea Grande", proximidades da
cidade de Limoeiro do Norte, em confronto com a policia cearense. Soube-se depois que o mesmo fora morto por cangaceiros de Benedito Saldanha, cumprindo o costumeiro processo de "Queima de Arquivo".
Para maiores esclarecimentos acerca do ataque lampionesco à Mossoró, sugiro a leitura do Blog "honoriodemedeiros.blogspot.com (No ítem CORONELISMO) e adquirir por compra o memorável e elucidativo livro "MASSILON" , de autoria do profícuo e renomado historiador do cangaço Honório Medeiros.
A partir do ano de 1915 foi instalado o clima de terror no município de Apodi, quando aportaram em Apodi os truculentos Srs. Martiniano de Queiroz Porto, oriundo da serra do Pereiro, no Ceará, e Juvêncio Augusto Barrêto, ambos trazendo seus jagunços, geralmente composto por celerados fugitivos da Justiça. Martiniano fixou residência na cidade, onde comprou um prédio residencial assobradado, onde escondia seus capangas. Juvêncio oriundo da cidade de Martins, onde renunciara ao cargo de Vereador, tendo se instalado em uma fazenda que comprara e que era denominada de "Unha de Gato", onde transformou em coito para vários cangaceiros, destacando-se Massilon Leite e Júlio Porto, então adolescente criado por Martiniano Porto. O nome civil de Júlio era Júlio Santana de Melo, tendo adotado o sobrenome Porto em homenagem à Martiniano Queiroz Porto. A vinda desses dois virulentos senhores para o Apodi deu-se em atendimento ao convite feito por Felipe Guerra e seu cunhado Tilon Gurgel, para cerrarem acirrada oposição política ao Coronel João Jázimo Pinto.
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| TILON GURGEL | 
José Fernandes Vieira (genro de Martiniano Porto) e João Francisco Dantas Sales. Os ânimos desse conluio de Magistrados foram acirrados com a investidura de Ferreira Chaves no governo estadual para o período 1914-1919, sendo certo que em 1919 Ferreira Chaves promoveu para Desembargadores os magistrados Horácio Barreto, sobrinho de sua esposa Alexandrina Barreto, e Felipe Guerra, que por sua vez convidou o seu amigo íntimo o Juiz de Direito João Francisco Dantas Sales para ocupar a Comarca do Apodi, consumando um plano adrede traçado para que este Juiz perseguisse a harmoniosa e pacífica hoste política da tradicional família PINTO, comandada pelos Coronéis João Jázimo Pinto e seu genro Coronel Francisco Pinto. Felipe Guerra era casado com uma irmã do não menos truculento Tilon Gurgel.
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| FELIPE GUERRA | 
Há um fato emblemático contido no Processo-Crime de Nº 486/1925,(Comarca de Apodi) em que aparece como indiciado o celerado Décio Holanda , cujo nome civil era Décio Sebastião de Albuquerque, e que representa um liame com o ataque de Lampião e seu grupo à Mossoró. Trata-se do depoimento do respeitável cidadão Vicente Gomes de Oliveira, prestado a 03.05.1925, que dentre outras arguições, afirmou: " Que é público e notório nesta cidade do Apodi, que Décio Sebastião de Albuquerque comprou em Mossoró dois mil cartuchos com balas para rifle e que estão depositadas em sua propriedade "Pedra das Abelhas" neste município. Na época correram rumores que a compra do arsenal bélico feita pelo Décio fora intermediado por Felipe Guerra e Jerônimo Rosado. Que Décio tem em sua casa de residência, na residência de seu sogro Tilon Gurgel e na casa de Belarmino de Tal, tudo na mesma propriedade "Pedra das Abelhas" e em sua outra propriedade denominada "Pacó" grande quantidade de armamentos e mais munições para o fim de atacar com cangaceiros os habitantes desta cidade amigos políticos do Coronel João Jázimo, ao própiro Cel. João Jázimo, atacando simultaneamente a força pública mandada pelo governador do estado para manter a ordem nesta cidade".
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| CANGACEIROS FAZEM POSE PARA FOTOGRAFIA | 
A fidagal amizade existente entre Felipe Guerra e Jerônimo Rosado remonta ainda ao ano de 1907, quando cerraram fileiras em Mossoró com o Coronel Vicente Sabóia de Albuquerque (parente de Décio) na luta pela implantação do ramal ferroviário Porto Franco - Mossoró. Em Setembro de 1926 o então Desembargador Felipe Guerra foi posto em disponibilidade, quando então retornou à Mossoró para assessorar o amigo Jerônimo Rosado. Nasceu aí o complô para a vinda de Lampião à Mossoró, com o fito único de eliminar o Prefeito Rodolfo Fernandes e proporcionar a volta do Jerônimo Rosado ao poder municipal. Jerônimo Rosado havia sido Presidente da Intendência Municipal de Mossoró (cargo que em Agosto de 1926 passou a ser denominado de
Prefeito) , tendo como Vice-Presidente (Vice-Prefeito) o Dr. Antonio Soares Júnior, médico e genro de Felipe Guerra.
Lembro-me que o meu avô paterno Aristides Ferreira Pinto,(1907-1975) que era irmão legítimo do Coronel Francisco Pinto,(1895-1934) contou-me pormenores da carta enviada pelo irmão ao seu parente Rodolfo Fernandes, informando, dentre outros detalhes, que soubera por fonte fidedigna, de que o arsenal comprado por Décio Holanda em Mossoró no ano de 1925, fora transferido em comboio animal noturno, da fazenda dos Saldanha em Caraúbas, para a fazenda "Bálsamo", de Décio Holanda, encravada na serra do Pereiro, no Ceará. Nos depoimentos dados em Pau dos Ferros pelos cangaceiros MORMAÇO E BRONZEADO foram unânimes em afirmarem que Lampião passou mais de um mês acoitado com o seu bando entre as fazendas de Décio Holanda e seu primo Zé Cardoso, preparando-se para o ataque à Mossoró, e que Lampião recebera de Décio e Zé Cardoso dois mil cartuchos com balas para rifle.
Em uma das edições do Jornal mossoroense "Correio do Povo" consta um comunicado de que o chefe de cangaceiros Benedito Saldanha, dias depois do ataque de Lampião à Mossoró, telegrafara ao então Chefe de Polícia do estadual Dr. Benício Filho (Manuel Benício de Melo Filho) informando que o cangaceiro Coqueiro, que fora um dos cangaceiros que atacara Mossoró, fora morto em sua fazenda "Várzea Grande", proximidades da
cidade de Limoeiro do Norte, em confronto com a policia cearense. Soube-se depois que o mesmo fora morto por cangaceiros de Benedito Saldanha, cumprindo o costumeiro processo de "Queima de Arquivo".
Para maiores esclarecimentos acerca do ataque lampionesco à Mossoró, sugiro a leitura do Blog "honoriodemedeiros.blogspot.com (No ítem CORONELISMO) e adquirir por compra o memorável e elucidativo livro "MASSILON" , de autoria do profícuo e renomado historiador do cangaço Honório Medeiros.
                              (Por  Marcos   Pinto).
CANGAÇO NO RIO GRANDE DO NORTE - A HISTÓRIA QUE NÃO FOI CONTADA (I).
 Em  um  dos  inúmeros  Seminários  promovidos  para  debater  a  história  do  cangaço, com  ênfase  para  seus  protagonistas,  ouvi ,  de renomados  estudiosos  desse  truculento  capítulo  da  historiografia  nordestina, que  ainda  há  muitos  episódios  e facetas  envoltos  em  abissal  mistério. Constata-se, à  exaustão, voluntariosas  e  inconsistentes  omissões  quanto  à  divulgação  em  livros  ou  em artigos  esparsos.  As  narrativas  equilibram-se   de  acordo  com  as
circunstâncias  e  tendências  em  conflito.  São  raros  os  historiadores/pesquisadores  que  evidenciam e deixam    uma lição  de  coragem  e  exemplo  de  independência, gestos  ratos  numa   época  de  subserviências  e  fraquezas  éticas. Foram/são  homens  de  diretrizes  certas  e  vontades  próprias, sob  a  tutela  das  quais  neutralizam os  velhos  vícios 
do  mandonismo  e  do  arbítrio.   Custeiam, com  recursos  próprios, as  suas  publicações  em  livros  e  opúsculos, para não  fazer  como tantos  que  se  atêm   com   deturpação  dos  fatos  e  distorção  da  história.  Já  é  perceptível  o  surgimento  de  um  segmento  entre  os  pesquisadores  sobre  o  cangaço, que  exorcizam  fatos  históricos  entregues ao  olvido.  À   esses, rendo  o  meu  preito  de  admiração  e  respeito,  inexpugnáveis.
       Os  capítulos  lacunosos  correm  num   estuário  de  espanto   e  de  mistérios.  Transbordam  pelas  barreiras    do  passado, para  espraiarem  na  planície  da  concretude  histórica.   No  desiderato  da  pesquisa  histórica, é  imprescindível  que  se   mantenha  uma  imparcialidade  quase   sobre-humana,  na  apreciação  dos  fatos  e  dos  homens.   Escoimando-se   os  fatos   deliberadamente   circunscritos  ao  olvido  e  a  um  silêncio  sepulcral.  Ainda  visualiza-se  a  predominância de  uma  perspectiva  de certo  modo  sombria  e preocupante  para  algumas  famílias  que  tiveram  alguns  dos   seus  membros  em  ativa  participação  no  processo  de  articulação  para  a  vinda de  Lampião  e  seu  bando  às  plagas  citadinas  da  região  Oeste  potiguar.  É  certo,  que  as  nuances  dos  ataques  banditícios   à  cidade  de  Apodi (10.05.1927)  e  à  Mossoró (13.06.1927)  reúnem  perspectivas  históricas  inéditas,  factuais  e  cronológicas, exaltadoras  de  minudências  que  configuram-se  em  instigante  libelo-crime  acusatório.  Isso, sem falar  em  provas  documentais  envolventes,  que  foram  deliberadamente  incinerados,  ou  perdidos  na  voragem  do  tempo.
          No  contexto  do cangaceirismo,  destacaram-se  as  asquerosas  figuras  de  Júlio  Santana  de  Melo, que  por  ter  a  proteção  do  seu  mentor  Martiniano  Porto, com quem veio  para  o  Apodi,  passou  a ser  conhecido como  sendo  JÚLIO  PORTO, que  viria  a  constituir  amizade  com  o  bandido  Massilon  Benevides,  e  que  mais tarde  compuseram  o  nefando  bando de  Lampião, nos  célebres  ataques  às  cidade de  Apodi (10.05.1927)  e  Mossoró (13.06.1927). 
          Com  a junção  desses   04  grupos  de  jagunços/bandoleiros, capitaneados  respectivamente  por  Juvêncio  Barreto, Martiniano   Queiroz  Porto, Décio  Holanda/Tilon  Gurgel, e  Benedito  Saldanha  e  Quinca  Saldanha  instalou-se  um  cenário de  horror  e    provocações   ao   povo  de  Apodi.   Delineou-se, assim, um   truculento  cenário  banditício.  Esses  redutos de grupos  de  jagunços  colocou  os  seus  comandantes  em tal   situação  de  poderio, que   faziam  de  suas  prepotentes  vontades  a  LEI  DOS SERTÕES, e   que  para  exercê-la  não  hesitavam  em  cometerem  atos  violentos,  arbitrários  e  reprováveis.  Esses  grupos  viviam   a  depredar  e  perseguirem  a  população  apodiense, prontos  ao serviço, submissos  às  determinações  dos  despóticos  patronos.
          Em  1922  o ardiloso  Desembargador  FELIPE  GUERRA  traficou  influência    e indicou  o   seu  amigo  particular  JOÃO  DANTAS  SALES  para  assumir   como  Juiz  de  Direito  a   Comarca  de  Apodi,  tendo  como  objetivo  proteger  e  tutelar  os  desmandos e
atos  de   infração  à  lei  e  ataques  à  vida  e  a   propriedade.  Benedito  e  Quinca  Saldanha  eram  os  protetores  de  Massilon, que se  julgava  afilhado  de  Quinca  Saldanha.
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| MASSILON | 
           No   processo-crime  de  nº  486, instaurado  em   03.05.1925   consta  vários  depoimentos  de  respeitáveis cidadãos apodienses, dando  conta  de  que  o  então  Juiz   de  Direito  da   Comarca   João  Dantas  Sales  acolhia  e   hospedava, às  escâncaras,  em  sua  residência  em   Apodi, os  bandoleiros  Benedito  e  Quinca  Saldanha.  Era  a  trinca  sinistra  comandando   a
desordem  e  instalando   o  pânico.   A  pública  ligação  pessoal  e  política   do   Juiz  João  Dantas  Sales, que  ocupou  a  titularidade  da  comarca  de  Apodi  no   período  1922-1925,   com  Benedito  Saldanha/Quinca, Décio   Holanda/Tilon  Gurgel, Martiniano  Porto/Juvêncio  Barreto,  influenciou-o  para  alterar   a  exação  que  norteia  e  é  dever  do   Magistrado.   Adotou  ignóbil   proteção  e  parcialidade  quando  Benedito  Saldanha   foi  julgado  pelo  Tribunal  Popular  do  Júri  em  Apodi, por   ter  espancado   o  Sr.  Francisco  Noronha  e  uma  moça  de  nome  Maria  Lúcia,  filha   do  velho  Carneiro.   Contribuiu  para  a  absolvição  de  Décio  Holanda   quando   submetido  a  julgamento  no   Tribunal  Popular  do  Júri,  por  ter  atirado  e  ferido   gravemente  um  rapaz  de  nome  Tertulino   Canela.  O  cinismo  e  a  desfaçatez  de  Felipe  Guerra  estão   delineados  quando  afirmou   que  "No  RN  não  há  cangaceirismo",  em  seu  livro  intitulado  "AINDA  O   NORDESTE" -  Pág. 79 -  Tipografia  do  Jornal  "A  República"  -  Ano  1927.
                                                                (Por  Marcos  Pinto).
(OBS:  Continua  na  Parte  II). 
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