A historiografia potiguar, atinente ao pujante processo que culminou com a abolição da escravidão negra em terras mossoroenses, aponta para o relevantes papéis desempenhados por Apodienses radicados naquelas plagas. Nesta saga de sangue, suor e lágrimas destacam-se os Srs. CLEMENTINO DE GÓIS NOGUEIRA, opulento e respeitado comerciante, e EUSÉBIO BELTRÃO, dono do Iate denominado de "APODI". Quando os notáveis abolicionistas mossoroenses começaram a campanha em prol da libertação negra, numa trajetória de lutas e de glórias, que começou no final de Janeiro de 1883 e terminou na heróica data de 30 de Setembro do mesmo ano, Eusébio Beltrão fazia o trajeto marítimo Porto Franco (imediações da cidade de Grossos-RN) ao porto da cidade de Recife-PE, conduzindo mercadorias compradas por comerciantes da praça de Mossoró.
Abolicionista do Clube do Cupim |
Na busca pela consolidação da luta pela libertação negra em Mossoró, criaram o CLUBE DOS ESPARTACUS, com a notável contribuição dos referidos Apodienses. O Presidente do CLUBE DO CUPIM era o rico comerciante pernambucano JOSÉ MARIA CARNEIRO DA CUNHA, primo legítimo do pai de Eusébio - o Prof. JOAQUIM MANOEL CARNEIRO DA CUNHA BLETRÃO, que foi o segundo Professor de primeiras letras na então Vila do Apodi, em 1841, e que foi o proprietário do primeiro imóvel residencial totalmente construído em alvenaria em Apodi, que é aquele casarão senhorial onde durante muitos anos residiu a doceira e boleira mais famosa do Apodi, dona COTÓ, tia paterna do saudoso Prof. Raimundo de Tião Lúcio (Raimundo Pereira). Na sua árdua faina, EUSÉBIO BELTRÃO conduzia escravos fugitivos do Recife, escondidos no porão do Iate "APODI", remetidos por
João Ramos, João Klapp e Dr. José Maria Carneiro da Cunha, Diretores do celebrado "CLUBE DO CUPIM". O Eusébio conduzia cartas dirigidas aos componentes do CLUBE DOS ESPARTACUS. Para burlar a vigilância dos senhores dos escravos, escreviam que seguiam tantas "levas de abacaxis".
Casarão onde residiu a doceira Dna. Cotó |
O contexto em que encontramos o Sr. CLEMENTINO DE GÓIS NOGUEIRA desempenhando a honrosa missão de acolhida e proteção aos escravos fugitivos, encontra-se nas páginas do livro "SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DA ABOLIÇÃO DO CATIVEIRO NO RIO GRANDE DO NORTE". Autor: João Batista Galvão - Coleção Mossoroense - Vol. CCXI - Ano 1982), senão vejamos:
"Contava ROMUALDO GALVÃO que certa vez fugira um cativo da Província de Pernambuco e se homiziara sob a bandeira da "LIBERTADORA MOSSOROENSE". Com poucos dias, chega um Senhor de Engenho pedindo o escravo de sua propriedade. Romualdo quer adquirí-lo para alforriar e propõe a importância de Cr$ 2.00 atuais e a resposta foi esta: - O senhor não tem dinheiro que pague uma surra que desejo dar em minha terra, nesse negro!". Enfim, conduz o escravo garantido por lei.
Romualdo Galvão, Romão Filgueira e Durval Fiúza comissionam Rafael Mossoroense e mais outros ex-escravos mascarados e mandam retomar o negro, após a divisa do município e em seguida dar no senhor de escravos umas pancadas, e esconder o cativo na propriedade denominada de "Garrafa", no Apodi, do tio de Romualdo, de nome Clementino de Góis Nogueira, já referido".
Desse dia em diante, o lugar mais seguro e ermo para esconder os escravos fugidos passou a ser o sítio "Garrafa", onde os mesmos eram acolhidos com a recomendação de que fosse divulgado que eram de propriedade dele Clementino. Este bravo Apodiense tinha outra minudência histórica: Era amigo íntimo de JESUÍNO BRILHANTE, o famoso "Cangaceiro Romântico", a quem acolhia/escondia em seu suntuoso casarão com sobrado, quando este vinha a negócios em Mossoró. CLEMENTINO era descendente direto de Antonia de Freitas Nogueira, fundadora do Apodi. Era, também, irmão de Bernardino de Góis Nogueira, bisavô materno do Prof. ROBSON LOPES, de saudosa e veneranda memória.
Marcos Pinto - HISTORIADOR APODIENSE.
4 comentários:
Em 1883, com o auxílio de amigos, João Ramos já havia estabelecido uma rota segura para os escravos fugidos, enviando-os para Mossoró, no Rio Grande do Norte, de onde eram transferidos para Aracati e Fortaleza, no Ceará. (FONTE: FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO).
O Clube do Cupim passou depois a ter vinte sócios efetivos. Cada sócio tinha sob suas ordens um capitão, este um sub-capitão que, por sua vez, comandava vinte auxiliares. Todos tinham que adotar um “nome de guerra” utilizando os nomes de localidades brasileiras. Dessa maneira, sempre com vinte sócios efetivos, o Clube do Cupim chegou a contar com mais de trezentos auxiliares.(FONTE: FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO).
No CLUBE DO CUPIM, Todo o trabalho era facilitado porque possuíam adeptos e simpatizantes em todo lugar. Havia uma grande quantidade de “panelas”, como eram conhecidos os esconderijos dos escravos que a sociedade ajudava a libertar.
Suas atividades eram cada vez mais intensas. Os escravos fugiam dos engenhos aos bandos, deixando alguns quase vazios.
O termo “cupim” passou a ser usado até pelos abolicionistas do Rio de Janeiro que pretendiam “libertar os centros populosos e fazer roer o cupim no interior”.
Aqui no Recife, os carregamentos e envios de escravos clandestinos para outros locais, passaram a ser mais numerosos e freqüentes. Os escravos eram enviados também para Camocim, Natal, Macau, Macaíba, Belém, Manaus, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e até Montevidéu, no Uruguai.
A última façanha do Clube do Cupim foi o embarque de 119 escravos, realizado no dia 23 de abril de 1888. Desceram à noite, do Poço da Panela, da casa de José Mariano em uma canoa de capim até a Capunga, sendo depois rebocados por dois botes que fundearam em frente a casa de banhos, passando daí para o barco Flor de Liz e, na manhã seguinte, para um rebocador que os levou para a liberdade. No dia 13 de maio, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea.(FONTE: FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO).
Em junho de 1885, o Recife preparou-se para receber Joaquim Nabuco. O Clube do Cupim, apesar da sua discrição colocou um anúncio no Jornal do Recife(dias 14 e 16):
Clube do Cupim: ‘‘A diretoria deste patriótico clube, convida seus numerosos consócios e a todos os homens de cor, que quiserem acompanhar ao Dr. Joaquim Nabuco no dia de sua chegada, a comparecerem no Largo do Arsenal da Marinha, a seis e trinta da manhã”.
Foram realizadas, no total, 21 sessões na sede do Clube, até que no dia 1º de novembro de 1885, resolveram dissolvê-lo por causa das perseguições. Não tinham mais um local fixo para suas reuniões, porém os cupins, como eram conhecidos os abolicionistas, continuavam a atuar clandestinamente.(FONTE:FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO).
Postar um comentário