segunda-feira, 20 de junho de 2011

Subsídios para a história do Sítio "Soledade" Apodi RN (Parte I)




A  vasta  extensão territorial  do  município de Apodi  proporcionou  a  fixação dos primeiros habitantes  dito civilizados, à medida que  era  exterminada  a   indiada  tapuia  paiacus, da  nação  Tarairius.  Durante o período  de estio, em que as chuvas  davam  lugar à  sequidão  das  terras, os índios  eram  forçados  à   retornarem  ao  convívio  das  belas paragens  naturais situadas  nas  margens das   piscosas   lagoas  de  Apodi  e  do  "Apanha-Peixe", onde  dessedentavam-se  e  praticavam a  pesca  como  meio de sobrevivência. Durante o  período invernoso, retornavam  ao cimo da  serra, a  qual  os  colonizadores  deram  inicialmente  o  nome  de  "SERRA  DA PICADA", cuja denominação  toponímica  primeira  deve-se  ao  fato  de  que  a  "picada"  havia  sido  aberta  pela  brava  família  NOGUEIRA FERREIRA,comandada  por  MANOEL  NOGUEIRA  FERREIRA (05.05.1655 - Paraíba/17.01.1715 - Apody),que aportou em  Apodi  oriundos  da Paraíba, via  Ceará, pelas  veredas  indígenas (Atual BR  116) que entroncavam  com  outra que  seguia no  rumo de Apodi, adentrando no atual  lugar  denominado de "Olho D'água da  Bica", varando em  indômita caminhada  as adustas  e  quase indevassáveis  caatingas  da  serra de  Apodi.

Quando  o governo da então Capitania do  Rio  Grande  começou  a  doar as terras do rincão  Apodiense  aos primeiros colonizadores, através das  famosas  CARTAS  DE  DATA  DE  SESMARIA, (1680-1742),doando  terras  no tamanho de  três  léguas de comprimento por  uma  de  largura, faziam  constar  no  documento oficial  - quando se  tratava das terras  situadas em cima da  serra, que dita  Sesmaria  era  encravada  na  "Serra da Picada", para  logo mais passarem  a  denominarem  de  "SERRA  PODY  DOS  ENCANTOS".  Á essa  linda  referência  toponímica, atribuo  ao fato de  que  o  elemento  colonizador, ao  chegar  às  bordas  da  serra e vislumbrar  o belo cenário  que  ainda  hoje  se  descortina  aos  nossos  olhos, na direção  da  lagoa  e  do  vasto carnaubal  da  várzea, resolveu que em seus requerimentos  denominariam  a  então  "Serra  da  Picada"  como  "Serra  Pody dos  Encantos", ligando  a  denominação  indígena  PODY, ao  belo  panorama  que  era  proporcionado aos que  transitavam  pela  serra.  Quando  a serra  cobria-se  do  manto  verde,  vestido pelo dadivoso  inverno, os  índios  arribavam  em  direção  às  terras  que  compreendem  o  atual  sítio  "Soledade", onde  fixavam  moradia  provisória  nas  grutas  do  lajedo, deixando  para  a  posteridade  suas  manifestações  culturais,  representadas  pelas  inscrições  rupestres, eternizadas em suas  rochas  calcáreas. Nas  páginas do  famoso  livro  intitulado "A  GUERRA  DOS  BÁRBAROS", de autoria do célebre  historiador  AFONSO  D'ESCRAGNOLLE  TAUNAY, às págs 181,230,255,265 e 266, encontramos  as  minudências  acerca  do  processo  empregado  pelo  homem  branco, para  exterminar  a  indiada  tapuias  paiacus  da  região  Apodiense - um verdadeiro  genocídio. Há  um relato de que  o  famoso  "TERÇO  DOS  PAULISTAS"  comandados  pelo  paulista  Manoel  Álvares  de  Morais  Navarro,composto  por  400 homens, lutou  durante  três  dias  e  três  noites  com  a  indiada  situada  nas  margens da  lagoa,eliminando mais de  duzentos  índios  e fazendo  considerável  número  de  cativos. Essa  truculência  praticada  pelo elemento  colonizador, privou  a  região de  Apodi  ver  constar  em seu  mapa  demográfico  a  existência  de  habitantes  com  origem  indígena.

Após  a  extinção  dos  índios, dos quais  temiam  a  belicosidade  e  artimanhas  empregadas  no  embate, o  elemento branco  povoador  passou a  fixar  seus  currais de gado  nas  terras da  Chapada, criando  e  aumentando  o rebanho  em forma  extensiva,onde as divisas  eram  simbolizadas  pela  fixação  de  pedras  grandes.  Verificando as  doações das terras  situadas  sobre a serra, em especial  as  terras  onde  hoje se  encontra  encravada  a  comunidade  do  sítio  "Soledade", encontramos  o seu primeiro   habitante   na  pessoa  do bravo  bandeirante  MANOEL  FRANCISCO  DOS  SANTOS  SOLEDADE,natural de  Aracati-CE, onde  nasceu  a  10 de Janeiro  de  1700  e  falecido  em  Apodi  a  07.02.1755.(Dados biográficos colhidos no BLOG  OESTE  NEWS, do grande e profícuo historiador  JOTA  MARIA, Apodiense de coração). Pesquisando  no Instituto  Histórico  e Geográfico  do  RN, encontrei  o primeiro " LIVRO  DE ATESTADOS DE ÓBITOS  DA    PARÓQUIA DE  APODY" , com  registros  de  óbitos do período  1766 (ano da criação  da  paróquia) ao ano  de  1776, cujos  assentos  foram  lavrados  pelo  primeiro  Padre da  paróquia  de  Apody -  O  Padre  JOÃO DA CUNHA  PAIVA (1766-1776).
Neste  precioso e  importante  documento, consta  que  MANOEL  DA  SOLEDADE  faleceu  em  Apodi  em  suas terras conhecidas  como  "LAJES  GRANDES" , que é  o  atual  sítio  "Soledade", a  07 de Fevereiro  de  1755,aos  55  anos de  idade,pouco mais ou menos, e que  foi  sepultado  na  Igreja-Matriz  de  Apody, deixando a  viúva  dona  VERÔNICA  DOS SANTOS.  Cruzando-se os dados colhidos  pelo historiador JOTA  MARIA com  os dados  colhidos  no dito  livro  paroquial, há  uma  discordância  quanto  ao ano do nascimento  de  MANOEL  DA  SOLEDADE.  Pelos  apontamentos  colhidos  pelo abnegado  pesquisador/historiador  JOTA  MARIA, Manoel  teria  falecido  aos  75 anos  de  idade. Pelo  livro de óbitos  da  paróquia  o  mesmo teria  nascido  em  1720. Fica esta interrogação para  investigações  posteriores. O certo é que  em  01 de Fevereiro de  1766  requereu  e  recebeu  doação  de  três  léguas de terras por uma de comprido, nos seguintes termos: "Ilmo. Capitão-Mór e governador.  DIZ  MANOEL DA SOLEDADE, morador na Ribeira de Apody,desta  Capitania, que  ele suplicante tem suas  criações  de gado e  não tem  terras  próprias  aonde  as  criar  e  porque na "Picada do apody"   que vai  para  o  Jaguaribe, na serra  dela, no  lugar  chamada  "Lajes  Grandes" há em  dita  terra  água  que com benefício se pode  sustentar  gado, e que  ele  dito  suplicante   requer  três  léguas  de terras  pegando  do  dito lugar  das "Lajes Grandes"  correndo  pela  dita  serra ou fazendo  do  comprimento  largura  ou da  largura  comprimento, como melhor lhe  convier...".(FONTE: Vide livro "SESMARIAS DO  RIO  GRANDE  DO  NORTE" - QUARTO  VOLUME, pág. 22  à  25 - 1764-1805).  Como a concessão  foi feita  no  mesmo  dia  da  data  do  requerimento, depreende-se  que  o  mesmo  se  encontrava  em Natal, ou então  que  deixou  a  data  do  requerimento  para  ser  colocada  em  Natal.  Como se  depreende  por  essa  CARTA  DE  DATA  DE SESMARIA, o  atual  sítio  "Soledade"  tinha  o  primitivo  nome  de  "LAJES  GRANDES", que  é  o  atual  e  famoso  "LAJEDO DE  SOLEDADE".

Investigando  o  rastro  desse  lendário  e  magnífico  desbravador, encontrei  largo  referencial  de  sua  vasta  envergadura como  bandeirante.  O renomado  historiador  cearense  GUILHERME  STUDART, em  sua  celebrada  obra  intitulada  "HISTÓRIA  DO CEARÁ"  faz  várias  abordagens  sobre  o  processo  de  colonização  cearense, em que, da  pág. 459 a 464  dá  enfoque  especial  à indômita  figura  de   MANOEL  FRANCISCO DOS  SANTOS  SOLEDADE, que  no  documento/requerimento  em que  solicita  a  doação das terras  apodienses  simplificou  seu  nome  para  MANOEL  DA  SOLEDADE.  Acredito que  adotou  essa  artimanha  para  dificultar  ou até mesmo  impossibilitar  a  ligação  com  ele  mesmo, que  requereu  e  recebeu  doação  de  terras  no  Ceará.  Durante  muito tempo vinha  investigando, em conversas  várias,  com  pessoas  residentes  no Tabuleiro  do Norte  e  em  "Olho  D'água da Bica", acerca  da existência  dessa  família  denominada  de  SOLEDADE, sem  contudo  lograr êxito. Eis que, em um  belo  dia, reservado  por  DEUS, em minha  estimada  e  valiosa  amizade  com  o Sr. LÓ  DE  CASSIMIRO VALENTIM, perguntei  ao  mesmo  se  ele,  em  suas  andanças  pelo  Ceará, especificamente  na  zona  rural e  lugar  denominado de  "Baixa dos Cabras", já ouvira  alguém mencionar, em conversas dos  alpendres  sertanejos  daquelas  paragens, a  existência de  alguém  pertencente  à  família  conhecida  como sendo a  FAMÍLIA  SOLEDADE. Qual  não foi  minha  imensa  alegria, ao ouvir  o velho  LÓ  mencionar  que  conhecia  esta  honrada  família, e que, inclusive já trabalhara  em  terras  da  família  dos  SOLEDADE. Na ocasião  citou  vários nomes  desta  família, fazendo  a  observação de  tem  um dos  SOLEDADE  que  é  vereador  na  cidade  de  Rodolfo  Fernandes, que  se  assina  com o  nome  civil  ENOCK  SOLEDADE.

(Para não tornar cansativa a leitura, continuo no próximo Domingo).


Marcos Pinto – Historiador e Presidente da Academia Apodiense de Letras.

Foi publicado no Apodiario, "vamos acompanhar a sequencia"

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