A vasta extensão territorial do município de Apodi proporcionou a fixação dos primeiros habitantes dito civilizados, à medida que era exterminada a indiada tapuia paiacus, da nação Tarairius. Durante o período de estio, em que as chuvas davam lugar à sequidão das terras, os índios eram forçados à retornarem ao convívio das belas paragens naturais situadas nas margens das piscosas lagoas de Apodi e do "Apanha-Peixe", onde dessedentavam-se e praticavam a pesca como meio de sobrevivência. Durante o período invernoso, retornavam ao cimo da serra, a qual os colonizadores deram inicialmente o nome de "SERRA DA PICADA", cuja denominação toponímica primeira deve-se ao fato de que a "picada" havia sido aberta pela brava família NOGUEIRA FERREIRA,comandada por MANOEL NOGUEIRA FERREIRA (05.05.1655 - Paraíba/17.01.1715 - Apody),que aportou em Apodi oriundos da Paraíba, via Ceará, pelas veredas indígenas (Atual BR 116) que entroncavam com outra que seguia no rumo de Apodi, adentrando no atual lugar denominado de "Olho D'água da Bica", varando em indômita caminhada as adustas e quase indevassáveis caatingas da serra de Apodi.
Quando o governo da então Capitania do Rio Grande começou a doar as terras do rincão Apodiense aos primeiros colonizadores, através das famosas CARTAS DE DATA DE SESMARIA, (1680-1742),doando terras no tamanho de três léguas de comprimento por uma de largura, faziam constar no documento oficial - quando se tratava das terras situadas em cima da serra, que dita Sesmaria era encravada na "Serra da Picada", para logo mais passarem a denominarem de "SERRA PODY DOS ENCANTOS". Á essa linda referência toponímica, atribuo ao fato de que o elemento colonizador, ao chegar às bordas da serra e vislumbrar o belo cenário que ainda hoje se descortina aos nossos olhos, na direção da lagoa e do vasto carnaubal da várzea, resolveu que em seus requerimentos denominariam a então "Serra da Picada" como "Serra Pody dos Encantos", ligando a denominação indígena PODY, ao belo panorama que era proporcionado aos que transitavam pela serra. Quando a serra cobria-se do manto verde, vestido pelo dadivoso inverno, os índios arribavam em direção às terras que compreendem o atual sítio "Soledade", onde fixavam moradia provisória nas grutas do lajedo, deixando para a posteridade suas manifestações culturais, representadas pelas inscrições rupestres, eternizadas em suas rochas calcáreas. Nas páginas do famoso livro intitulado "A GUERRA DOS BÁRBAROS", de autoria do célebre historiador AFONSO D'ESCRAGNOLLE TAUNAY, às págs 181,230,255,265 e 266, encontramos as minudências acerca do processo empregado pelo homem branco, para exterminar a indiada tapuias paiacus da região Apodiense - um verdadeiro genocídio. Há um relato de que o famoso "TERÇO DOS PAULISTAS" comandados pelo paulista Manoel Álvares de Morais Navarro,composto por 400 homens, lutou durante três dias e três noites com a indiada situada nas margens da lagoa,eliminando mais de duzentos índios e fazendo considerável número de cativos. Essa truculência praticada pelo elemento colonizador, privou a região de Apodi ver constar em seu mapa demográfico a existência de habitantes com origem indígena.
Após a extinção dos índios, dos quais temiam a belicosidade e artimanhas empregadas no embate, o elemento branco povoador passou a fixar seus currais de gado nas terras da Chapada, criando e aumentando o rebanho em forma extensiva,onde as divisas eram simbolizadas pela fixação de pedras grandes. Verificando as doações das terras situadas sobre a serra, em especial as terras onde hoje se encontra encravada a comunidade do sítio "Soledade", encontramos o seu primeiro habitante na pessoa do bravo bandeirante MANOEL FRANCISCO DOS SANTOS SOLEDADE,natural de Aracati-CE, onde nasceu a 10 de Janeiro de 1700 e falecido em Apodi a 07.02.1755.(Dados biográficos colhidos no BLOG OESTE NEWS, do grande e profícuo historiador JOTA MARIA, Apodiense de coração). Pesquisando no Instituto Histórico e Geográfico do RN, encontrei o primeiro " LIVRO DE ATESTADOS DE ÓBITOS DA PARÓQUIA DE APODY" , com registros de óbitos do período 1766 (ano da criação da paróquia) ao ano de 1776, cujos assentos foram lavrados pelo primeiro Padre da paróquia de Apody - O Padre JOÃO DA CUNHA PAIVA (1766-1776).
Neste precioso e importante documento, consta que MANOEL DA SOLEDADE faleceu em Apodi em suas terras conhecidas como "LAJES GRANDES" , que é o atual sítio "Soledade", a 07 de Fevereiro de 1755,aos 55 anos de idade,pouco mais ou menos, e que foi sepultado na Igreja-Matriz de Apody, deixando a viúva dona VERÔNICA DOS SANTOS. Cruzando-se os dados colhidos pelo historiador JOTA MARIA com os dados colhidos no dito livro paroquial, há uma discordância quanto ao ano do nascimento de MANOEL DA SOLEDADE. Pelos apontamentos colhidos pelo abnegado pesquisador/historiador JOTA MARIA, Manoel teria falecido aos 75 anos de idade. Pelo livro de óbitos da paróquia o mesmo teria nascido em 1720. Fica esta interrogação para investigações posteriores. O certo é que em 01 de Fevereiro de 1766 requereu e recebeu doação de três léguas de terras por uma de comprido, nos seguintes termos: "Ilmo. Capitão-Mór e governador. DIZ MANOEL DA SOLEDADE, morador na Ribeira de Apody,desta Capitania, que ele suplicante tem suas criações de gado e não tem terras próprias aonde as criar e porque na "Picada do apody" que vai para o Jaguaribe, na serra dela, no lugar chamada "Lajes Grandes" há em dita terra água que com benefício se pode sustentar gado, e que ele dito suplicante requer três léguas de terras pegando do dito lugar das "Lajes Grandes" correndo pela dita serra ou fazendo do comprimento largura ou da largura comprimento, como melhor lhe convier...".(FONTE: Vide livro "SESMARIAS DO RIO GRANDE DO NORTE" - QUARTO VOLUME, pág. 22 à 25 - 1764-1805). Como a concessão foi feita no mesmo dia da data do requerimento, depreende-se que o mesmo se encontrava em Natal, ou então que deixou a data do requerimento para ser colocada em Natal. Como se depreende por essa CARTA DE DATA DE SESMARIA, o atual sítio "Soledade" tinha o primitivo nome de "LAJES GRANDES", que é o atual e famoso "LAJEDO DE SOLEDADE".
Investigando o rastro desse lendário e magnífico desbravador, encontrei largo referencial de sua vasta envergadura como bandeirante. O renomado historiador cearense GUILHERME STUDART, em sua celebrada obra intitulada "HISTÓRIA DO CEARÁ" faz várias abordagens sobre o processo de colonização cearense, em que, da pág. 459 a 464 dá enfoque especial à indômita figura de MANOEL FRANCISCO DOS SANTOS SOLEDADE, que no documento/requerimento em que solicita a doação das terras apodienses simplificou seu nome para MANOEL DA SOLEDADE. Acredito que adotou essa artimanha para dificultar ou até mesmo impossibilitar a ligação com ele mesmo, que requereu e recebeu doação de terras no Ceará. Durante muito tempo vinha investigando, em conversas várias, com pessoas residentes no Tabuleiro do Norte e em "Olho D'água da Bica", acerca da existência dessa família denominada de SOLEDADE, sem contudo lograr êxito. Eis que, em um belo dia, reservado por DEUS, em minha estimada e valiosa amizade com o Sr. LÓ DE CASSIMIRO VALENTIM, perguntei ao mesmo se ele, em suas andanças pelo Ceará, especificamente na zona rural e lugar denominado de "Baixa dos Cabras", já ouvira alguém mencionar, em conversas dos alpendres sertanejos daquelas paragens, a existência de alguém pertencente à família conhecida como sendo a FAMÍLIA SOLEDADE. Qual não foi minha imensa alegria, ao ouvir o velho LÓ mencionar que conhecia esta honrada família, e que, inclusive já trabalhara em terras da família dos SOLEDADE. Na ocasião citou vários nomes desta família, fazendo a observação de tem um dos SOLEDADE que é vereador na cidade de Rodolfo Fernandes, que se assina com o nome civil ENOCK SOLEDADE.
(Para não tornar cansativa a leitura, continuo no próximo Domingo).
Marcos Pinto – Historiador e Presidente da Academia Apodiense de Letras.
Foi publicado no Apodiario, "vamos acompanhar a sequencia"
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