A história universal prega que o rio Nilo é a dádiva
do Egito. Partindo desse contexto, pode-se afirmar de forma
incisiva que a Mãe-Lagoa de Apodi é a dádiva da cidade.
Não existe família apodiense que, por mais tradicional que seja,
não tenha sobrevivido do arroz, feijão e batata doce oriundos
das vazantes da lagoa, cujas margens enchem de verde aquelas
paradisíacas paragens conhecidas como Poço da Matuta, Poço dos
Homens, Bico da Croa, Despejo, Passagem do Carcará, (Por onde a
lagoa recebe água do rio) Ponta D'Água, Merêncio, Vertentes,
Garapa, Largo, Estreito, Horto Florestal etc.
Posso até citar nomes de grandes expressões da geografia humana
de Apodi que brilharam além-fronteiras do Apodi, como os Srs.
Osmídio Jovino, Raimundo Jovino de Oliveira (Foi Prefeito em Mossoró -
no período 01.11.1932/21.09.1933)João Cantídio de Oliveira,
Raimundo Cantídio de Oliveira (Avô materno de Elano Cantídio,
médico-proprietário da Clínica Oitava Rosado, em Mossoró),
industriais que se projetaram nos destinos de Mossoró, como
também Francisco Izódio de Souza (Prefeito em Mossoró no período
1911-1913) Luiz Colombo Ferreira Pinto (Tio de Alice Pinto, e
que foi Prefeito de Mossoró no ano de 1927), Rubens Pinto (Pai
de Hugo Pinto, dono da loja de eletrodomésticos H.F.Pinto).
São chamadas Vazantes aqueles terrenos dos rios,
açudes, lagos e lagoas que são inundados no período invernoso e
que vão sendo pouco à pouco descobertos, tornando-se, assim,
agricultáveis. Nas margens da lagoa de Apodi, especialmente nos
lugares denominados de Despejo,Merêncio e Ponta D'água é onde
estão localizadas as melhores vazantes, cujo solo apresenta um
perfil areno-argiloso, onde o vazanteiro faz as suas conhecidas
covas ou leiras, onde geralmente plantam arroz vermelho,
feijão,milho, abóbora, batata-docem melão e melancia, além de
capim.
Estudos comprovam que a água da
Mãe-Lagoa de Apodi baixa, por evaporação, cerca de 20
centímetros por mês. Variando com a declividade, o abaixamento
mensal do espelho d'água em 20 centímetros tanto pode descobrir
meio, como cincou ou dez metros de solo para plantio. Estes
terrenos geralmente dispensam adubação, dado sua reconhecida
fertilidade representada pelos adubos naturais trazidos pelas
águas pluviais. Influi muito a rapidez com que baixam as
águas.
Os conterrâneos que sobrevivem às
expensas das vazantes são detentorer de larga saúde, fruto do
alimento sadio, sem o emprego de nocivos agrotóxicos. Fazendo
jus ao título, evoquemos os velhos vazanteiros sob a nostalgia
de intensa saudade, uma vez que cerca de 95% já receberam o
chamado do Pai Eterno, vivenciando a faixa silente da
eternidade. Imagino quão alegre era a vida dos vazanteiros,
colhendo o fruto dos seus suores diários e convivendo com
aquela amplitude do verde que contagia de alegria a alma. O
zelo com suas plantações não dispensava a atenção em espantar
os pássaros que procuram, insistentemente, consumir os cachos de
arroz no período da colheita. Os pássaros mais comuns são os
Tizius saltitantes, os canários, as graúnas, os miúdos e os
cabeças-vermelhas. A estratégia para espantá-los consiste em
ficar trepado em uma espécie de jirau feito com varas, e
ficar puxando um cordão ou corda estirado e atado a latas
com pedras dentro, o que ao ser puxado com força agitava as
pedras e fazia barulho, espantando os pássaros.
Nas vazantes do "Despejo" tínhamos os seguintes
plantadores/vazanteiros: Paulino Caveja, Batata de Paulino, Beija
Curinga, Nelson Lucas, Antonio Padre, Lucas Reinaldo (Pai de Elísio
Reinaldo) Manezim Reinaldo, Severino Gato, Joaquim Pompílio,
Cícero de Dino (Pai de Chavinha), Tico de Enéas, Vitor Jararaca,
João de Dodô (Irmão do coronel Lucas Pinto) e Zé Raposo, que
plantava algodão nas Crôas.
No lugar
"Merêncio" as pequenas glebas de terras eram plantadas pelos
Srs. João Raposo, Chico Raposo, Bolota de Raposo, Chico de Cota,
Vicente Maia, Miguel Guarda, Manoel Dantas (Sacristão da paróquia
de Apodi durante 40 anos) Zé de Cândido, Raimundo Braz, Toinho
Torres,, Pereira Torres, Chico Torres, Bento Tito, Chico Tito (O
Velho), João Menino, Beinho, Lozo de João Menino, Chico Inglês,
Mané Inglês, Lulu Inglês e Chico Sinfrônio. Na parte que
compreende a "Ponta Dágua" os da família Inglês também
plantavam, como também os da família TITO, sendo maior parte
pertencente ao meu avô paterno Aristides Pinto. Na evocação do
tempo, foram homens que contribuíram para o progresso da
cidade, mesmo que de forma humilde. Eis o resgate dos velhos
e saudosos vazanteiros da lagoa de Apodi.
Por Marcos Pinto (Historiador apodiense)
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