Marisa Monte e Paulinho da Viola.
Música 1917, Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana),
letra1937, João de Barro ( BRAGUINHA - Carlos Alberto Ferreira Braga)
"Carinhoso" tem uma história que se inicia de forma inusitada, com o autor
da música (Pixinguinha) mantendo-a inédita por mais de dez anos; sua
justificativa, no depoimento que deu ao Museu da Imagem e do Som do Rio de
Janeiro em 1968 :
" Eu fiz o 'Carinhoso' em 1917. Naquele tempo o pessoal nosso da música não
admitia choro assim de duas partes (choro tinha que ter três partes).
Então, eu fiz o "Carinhoso" e encostei. Tocar o 'Carinhoso' naquele meio!
Eu não tocava....ninguém ia aceitar".
O jovem Pixinguinha, então com 20 anos, não se atrevia a contrariar o
esquema adotado nos choros da época, herdada da polca.
Ele mesmo esclareceu, no depoimento, que 'Carinhoso' era uma polca, polca
lenta. O andamento era o mesmo de hoje e eu
classifiquei de polca ou polca vagarosa. Mais tarde mudei para chorinho".
"Carinhoso" foi gravado, apenas instrumentalmente, em 1928 pela orquestra
Típica Pixinguinha-Donga.
Sobre essa gravação, um crítico pouco versado em jazz publicou o seguinte
comentário na revista Phonoarte (nº 11, de 15.01.1929):
"Parece que o nosso popular compositor anda sendo influenciado pelos ritmos
e melodias do jazz. É o que temos notado, desde algum tempo e
mais uma vez neste seu choro, cuja introdução é um verdadeiro fox-trot e
que, no seu decorrer, apresenta combinações de música popular yankee.
Não nos agradou".
Ainda sem letra, 'Carinhoso' teria mais duas gravações apenas instrumentais.
Apesar das três gravações e execuções em programas de rádio e rodas de
choro,
continuava até meados dos anos trinta ignorado pelo grande público.
Em outubro de 1936, um acontecimento iria contribuir de forma acidental para
uma completa mudança no curso de sua história:
encenava-se naquele mês no Teatro Municipal do Rio de Janeiro o espetáculo
"Parada das Maravilhas,
promovido pela primeira dama, dna. Darcy Vargas, em benefício da obra
assistencial Pequena Cruzada.
Convidada a participar do evento, a atriz e cantora Heloísa Helena pediu a
seu amigo Braguinha uma canção nova que
marcasse sua presença no palco. Não possuindo nenhuma na ocasião, o
compositor aceitou então a sugestão da amiga para que
pusesse versos no choro "Carinhoso".
"Procurei imediatamente o Pixinguinha", relembra Braguinha, "que me mostrou
a melodia num dancing (o Eldorado) onde estava
atuando : "No dia seguinte entreguei a letra a Heloísa, que muito
satisfeita, me presenteou com uma gravata italiana".
Surgiu assim, escrita às pressas e sem maiores pretensões a letra de
"Carinhoso", que se tornaria um dos maiores clássicos da MPB a partir do
momento que pode ser cantado. Recebeu mais de duzentas gravações, desde a
primeira (28.05.1937) cantada por Orlando Silva,
o "cantor das multidões" .
Dárcio Fragoso
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