As características personalísticas comuns às famílias BRUACA, TARGINO e TENÓRIO são definidas pelas atitudes firmes, dignidade e honra pessoal. Dignas famílias compostas por homens e mulheres que acreditam na força da palavra empenhada,e no entendimento de que o que foi firmado em compromisso deve ser mantido em qualquer circunstância. Tem a lealdade e
a confiança mútuas como base para consolidação de amizade estável e duradoura. São valorosas famílias, fiéis aos seus temperamentos de convicções antigas e irredutíveis de obstinação e determinação. Elegantes na simplicidade da vida cotidiana. Constituem o mais seguro roteiro histórico do costume sertanejo do entrelaçamento familiar restrito à pessoas destas três famílias, evidenciando a identidade com a alma do passado, como condição indispensável para se pensar na vida do futuro. Devotam profundo respeito aos seus princípios tradicionais,que entre elas representam uma norma de conduta. Só em ter seus nomes citados, imprimem acatamento, respeito e confiança. Meu avô e meu pai tiveram a honra de contar com a elevada estima e amizade destas honradas famílias. Na retina do meu passado de menino de dez anos, lembro-me que fui hóspede, junto com o meu saudoso pai, do amável casal sêo ODILON TARGINO e dona PRETA. Final de tarde, sentava-me em tamborete com assento de couro de boi, defronte a casa, ouvindo os velhos Bruacas e Targinos a relembrarem suas andanças pela vastidão da Chapada do Apodi. Durante as conversas, serviam-nos um cheiroso café torrado e moído em casa, por dona Preta. Em ano de seca, podia-se ouvir o zumbido das "cigarras" rasgando a teia do silêncio da caatinga. Saudosas tardes de ar provinciano, onde eu fitava o horizonte até o derradeiro raio de sol a abrir o caminho da noite.
Sobre a família TENÓRIO, colhí importantes subsídios históricos ouvindo pessoas de idade longeva, como os
Srs. Natim Targino, João Martins e Tibúrcio Bruaca - que é o mesmo Tibúrcio Goela, que faleceu beirando os 100 anos de idade. Todos nascidos e criados no sítio "Soledade". Restou comprovado que a família TENÓRIO fixou-se inicialmente no sítio "Baixa Verde", na Chapada do Apodi, por volta do ano de 1940, tendo como tronco inicial o Sr. PEDRO TENÓRIO e esposa Maria. Este venerando casal chegou em Apodi vindo do sítio "Passagem de Pedras", em Mossoró, onde ficaram o pai e os irmãos de Pedro, cujo pai era conhecido como sendo o velho CHICO TENÓRIO. Do casal PEDRO e MARIA nasceram os seguintes filhos: F.01- CHICO TENÓRIO, que casou com dona FRANCISCA, filha do velho João Targino,tendo fixado residência no sítio "Soledade" onde vivia da fabricação da cal; F.02- RAIMUNDO TENÓRIO, casado com Doca; F.03- ALDENOR TENÓRIO; F.04- ANTONIO TENÓRIO, casado com uma filha de Belino da "Baixa Verde"; F.05- TIQUINHO TENÓRIO;
F.06- RAIMUNDA TENÓRIO, casada com Antonio Pequeno; F.07- MARIA TENORIO; F.08- TIQUINHA TENÓRIO, casada com José Eleutério, filho de Eleutério, vaqueiro de Manoel Negreiros.
No arcabouço histórico do sítio "Soledade" não há como não se fazer alusão ao ícone representado pelo "LAJEDO DE SOLEDADE", mundialmente conhecido, por suas gravuras rupestres. Quatro figuras exponenciais ligam-se intrínsecamente à história e a preservação do acervo arqueológico do "LAJEDO": O inolvidável Padre FRANCISCO CORRÊIA TELLES DE MENEZES; O incansável historiador VINGT-UN ROSADO; O insígne e profícuo Padre PEDRO NEEFS, e a historiadora e poetisa MARIA AUXILIADORA DA SILVA MAIA (Dodora de Tião Lúcio). Não é de hoje que estas pinturas chamam a atenção dos visitantes que passaram próximo ao Lajedo, ou que delas tenham ouvido relatos. Ainda no
Século XVII as pinturas foram citadas pelo pelo Padre Jesuíta FRANCISCO CORRÊIA TELLES DE MENEZES, que percorreu os sertões nordestinos entre o ano de 1797 a 1817, catalogando e elaborando minucioso relatório das pinturas rupestres existentes em grutas e lajedos, compilados no Tomo IV intitulado "DA LAMENTAÇÃO BRASÍLICA". Este texto traz consigo a primeira informação sobre o "LAJEDO DE SOLEDADE":
"LAJES DA SOLEDADE - Este sítio é da entrada da "Picada do Apodi" para diante uma légua. É dono de
uma parte dele JOSÉ LOPES, morador nas vargens do Apodi, o qual diz que, quando cavou o olho d'água, que é entre pedras, descobriu-o subterrâneamente muitos cacos de telha e de louça, como que com eles se fez o entupimento, e logo pulsou água em abundância. Este poço está em uma ilharga dum pequeno terreno de terra firme, entre grande lajeiro de
pedra de cal, por cujas ribanceiras e locas estão muitos sinais de tinta encarnada; mas como é aposento de passageiros,
estes os tem raspado com facas e ralado com pedras, e que por isto já mal se divulgam". (FONTE: Google/Arquivo PDF - "MUSEALIZAÇÃO E ARQUEOLOGIA: DIAGNÓSTICO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO EM MUSEUS POTIGUARES". Abraão Sanderson Nunes F. da Silva - USP/MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUELOGIA").
Quando o dinâmico e profícuo Padre PEDRO NEEFS chegou ao Apodi (1965-1969) para dirigir a sua paróquia, foi informado pelas três famílias acima citadas, de que existia um lajedo onde eram encontradas várias pinturas, o que despertou a curiosidade em conhecê-las, bem como desenvolver trabalhos de conscientização da comunidade quanto à necessidade histórica da sua preservação. Conseguiu juntar considerável acervo arqueológico, tais como peixes fossilizados e outras faianças, cujo material possibilitou a criação de um museu natural na sede da FUNDEVAP. Vale ressaltar que, após a mudança do Pe. Pedro Neefs para outra paróquia distante, o lajedo ficou totalmente entregue ao abandono, não tendo sucumbido à sanha destruidora dos donos de caieiras, graças à abnegada e desprendida historiadora DODORA DE TIÃO LÚCIO, que em magnânima e louvável atitude chegou ao ponto de vender um veículo de sua propriedade para arcar com a impressão de cartões postais enfocando as pinturas rupestres, para divulgar no país inteiro. Graças à esse incansável e contínuo empenho de Dodora, a PETROBRÁS cerrou fileiras com ela para catalogar, preservar e divulgar o patrimônio arqueológico do lajedo para o mundo inteiro. O apego e o amor de Dodora ao LAJEDO DE SOLEDADE encontra-se espraiado nas páginas 21 e 22 do livro de minha autoria intitulado "DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DE APODY", vol. I : .....O que me restará fazer pela história do meu Apodi? Talvez apenas envelhecer caminhando sobre as pedras milenares do Lajedo de Soledade e olhando o por-do-sol sobre a nossa lagoa". A dinâmica Dodora ainda reuniu todos os apontamentos históricos sobre o Lajedo, nos dando o legado de um livro intitulado "LAJEDO DE SOLEDADE (história de) UM POEMA DE PEDRAS". Apodi e seu povo devem este grande preito de reconhecimento e gratidão a essa brava e incansável defensora do Lajedo de Soledade e seu expressivo acervo arqueológico.
Aos pesquisadores e historiadores, sugiro a consulta a monogafia acima citada e esta monografia contida no Google/ Arquivo Pdf - intitulada "O LAZER E AS ALTERNATIVAS DE GERAÇÃO DE RENDA: O TURISMO CULTURAL NO LAJEDO DE SOLEDADE, APODI/RN). Monografia de Elizabeth Cíntia Medeiros de Oliveira, apresentada como requisito para a obtenção do grau de Bacharelado em Antropologia e Sociologia no Curso de Ciências Sociais da UFRN.
O Sr. JOSÉ LOPES referenciado pelo Padre Francisco Corrêia Telles de Menezes é personagem constante dos meus alfarrábios. No assento de óbito encontrado em um dos livros do 1º Cartório Judiciário de Apodi, do ano de 1933, à fls. 170/v, consta que o mesmo tinha o nome completo JOSÉ LOPES DE LIMA, filho legítimo de José Lopes de Oliveira e de Luzia de Lima, e faleceu no sítio "Trapiá" (várzea do Apodi) a 20.05.1933, aos 83 anos de idade, deixando a viúva ANTONIA VIRGÍNIA DE OLIVEIRA e os filhos JOÃO LOPES DE LIMA, casado com Petronila Alves de Oliveira; JOSÉ LOPES FILHO; solteiro com 28 anos; SEBASTIANA ALVES DE OLIVEIRA, casada com João Ferreira Gama; MARTINHA ALVES DE LIMA, casada com Antonio Lúcio da Silva (Pais de João de Toinho,que mora vizinho ao cemitério); e ESMERALDINA ALVES DE LIMA, casada com Henrique Eufrásio de Lima (Pais de Zacarias Eufrásio de Lima).
Por. Marcos Pinto.
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